Mariana Cáceres | A ilustração é camaleónica

A curiosidade é uma qualidade satisfatória. E são dois pólos - a ilustração e a tatuagem - que não se opõem e criam a individualidade da Mariana Cáceres. Em modo contínuo, é observadora e acumula ideias em novas vertentes para conseguir desenvolver-se – e envolver-se. A música é a residência permanente e rapidamente transforma qualquer uma das suas obsessões visuais em algo maior.

“Comecei a desenhar muito nova. Para entreter-me, a minha avó ensinou-me a desenhar coisas muito básicas. Era funny”, conta Mariana. Ainda em miúda, percebeu que o desenho era bem mais do que uma brincadeira, era um escape. Estudou Artes, pensou em seguir Design e desistiu da ideia. “Depois, foi Arquitectura porque toda a gente dizia que era o que dava dinheiro, mas eu só fazia casas nos The Sims. Nesse momento, pensei “you know what? Não quero saber.” Na faculdade completou dois anos no curso de Restauro e em 2015 fez um desvio para Desenho na Faculdade de Belas-Artes.

Ainda estava em Restauro quando se aproximou da Ilustração. “No Ar.Co fiz workshops de ilustração e de banda desenhada e comecei a fazer cartazes para a Feira das Almas. Fiquei muito entusiasmada porque ainda nem tinha terminado o curso e as pessoas já iam reconhecendo o meu traço e o meu trabalho”, explica. O primeiro heartbreak? Umas ilustrações para o Diário de Notícias, “porque não fui paga e aí percebi como as coisas funcionam na realidade”.

Aos poucos, a questão visual evidenciava-se em dimensão e qualidade, levando a ilustradora para um campo visual plástico cada vez mais comunicativo. “Tento retirar coisas que estão à minha volta. Tento pegar no que vejo e não tanto o que está dentro de mim”. Obcecada pelo som e pelas sensações que a partir daí se multiplicam, Mariana começa a criar figuras a par com o que ouve. É a ilustração camaleónica? Sem dúvida.

A primeira ligação e também a mais contígua foi com Pernas de Alicate. Em 2016, no festival Super Bock Super Rock, a realizadora Leonor Bettencourt Loureiro, na altura associada à rádio Antena 3, convidou-a para ilustrar os artistas que iam tocando no Palco Antena3.

Entretanto, em encontros descontraídos, Mariana aprendeu a tatuar. Afinal, podia ser uma oportunidade. “Se a ilustração correr mal e se não conseguir estabelecer-me como ilustradora, vou tatuar os meus desenhos nas pessoas”, pensou. Actualmente, é uma das tatuadoras do Pântano Studios em Lisboa. Esteve ainda associada à Ironic Lisbon, a abordagem que depois da tatuagem lhe permitiu mais segurança, “porque as pessoas têm a tendência para comprar alguma coisa que usem e com um propósito, uma t-shirt ou tote bag com uma ilustração mais do que um original ou um print”.

Ainda é frequente o confronto com as reacções de outros, “o desprezo por uma nova linguagem”, reage. Acrescenta que “para além de ser uma forma de protegermos o nosso trabalho com esta nova vaga de tatuadores e ilustradores, é importante para combater os estigmas associados às mulheres tatuadoras”.

Perante tudo isto, no fundo, todas as suas actividades visuais respondem a um espaço comum: a arte. E ambas revelam que a ilustradora encontra sempre nas linhas e nas cores a resposta intuitiva para continuar a sua exploração.

acompanhem o trabalho da Mariana no facebook: @marianacaceresillustration

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por: Teresa Melo
ilustrações: Mariana Cáceres

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