Joana Linda: 'Gosto dessa ideia de que tudo é um ciclo'

Entre a produção e a interpretação livre, a fotógrafa Joana Linda encontrou na fotografia o acesso privilegiado para todas as outras coisas. Quer na música ou no cinema, oferece-nos sempre pequenos regalos visuais para todo e qualquer ouvido. Sempre imprevisível, sempre genuíno. Depois das colaborações com Cristina Branco, Márcia ou Mazgani, Joana surpreendeu-nos recentemente com o teledisco de Overcome, o single do álbum homónimo dos Keep Razors Sharp, lançado no dia 19 de Outubro.

'Se alguma vez tive o sonho de ser fotógrafa? Nunca'

“A única coisa que posso atribuir a isto é ao cinema”, remata assertiva. “Acho que a fotografia surgiu porque era uma maneira, com facilidade e sozinha, de colocar em prática aquilo que no fundo era o meu sonho, a representação de imagens”. Casualmente, ainda na faculdade começa a fotografar sem pretensões, apenas pelo gosto. Aparecem os primeiros trabalhos e logo tornou-se profissão e fonte de rendimento. “Aconteceu sem grande esforço. Se alguma vez tive o sonho de ser fotógrafa? Nunca”.

Na qualidade de autodidacta inquieta, Joana procura sempre os lugares mais bonitos porque não consegue estar parada no mesmo sitio. “Quando acabo um trabalho, acabou mesmo. Não penso mais naquilo e já estou a imaginar a coisa a seguir.” Um pouco como a improvisação na música. Dentro da fotografia e do vídeo, o percurso que a tem acompanhado, diversifica-se constantemente, porque “há muito esse lado de curiosidade”, justifica. “Preciso de estar constantemente a fazer coisas novas e a desafiar-me. Prova superada? Okay, próximo. A minha satisfação é terminar o trabalho e ficar contente com ele”.

Overcome, um teledisco onírico

Construir sobre a imprevisibilidade, foi assim que a Joana encontrou a fórmula para a sua estética. “Na verdade, o meu trabalho não é nada narrativo, nunca foi e espero que nunca venha a ser, no sentido em que há uma narrativa obviamente, mas não é linear”, explica. Ela cria-se na predisposição das pessoas, dos tempos e dos espaços, muito além da estrutura determinada.

Para o teledisco “Overcome”, a fotógrafa percebeu rapidamente o que queria e como o queria fazer. “Deram-me liberdade para criar uma proposta. Ouvi a musica, li a letra e pensei imediatamente nisto”. E acrescenta, “há pessoas que precisam de saber o que vai acontecer e eu, pelas minhas características, não. Obviamente que delimito, mas prefiro sempre deixar para a improvisação e para aquilo que o sítio me sugere. Gosto de ter essa liberdade de fazer. Uma coisa mais instintiva”.

Por um lado a representação, por outro a compreensão das sinuosidades e encontros na vida são fundamentais para o modo como nos relacionamos. “Gosto dessa ideia de que tudo é um ciclo, que andamos sempre à volta do mesmo e que história se repete mas com pessoas, roupas e sítios diferentes”.

Depois há a metáfora do barqueiro e a passagem entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. “A música também sugere esse ambiente mais sombrio. Foi um bocado aí que pensei imediatamente no World of Discoveries”, explica a fotógrafa. Entre a abstracção e a utopia, há um estado onírico. E é aí que a fantasia e a realidade se fundem. O vai e o vem, as emoções que se repetem e que superam a evolução dos povos, a efemeridade das coisas. Em pequenas noções de que tudo pode ser uma reprodução do que já foi vivido, à aproximamo-nos uns dos outros.

Keep Razors Sharp apresentam o disco 'Overcome' no Jameson Urban Routes no dia 25 de Outubro, no Musicbox.

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por: Teresa Melo
Fotografia: Joana Linda

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