Ditosa aquela FLAMA que se atreve: Entrevista a Pedro Azevedo

O Pedro nunca, mas nunca passa despercebido. Quem conhece este rapaz, habitualmente como Flama, sabe que não deixou o Funchal em vão. Há 10 anos entrou na equipa da Cultural Trend Lisbon e é desde 2000, o programador do Musicbox. O Flama é também o responsável pela programação do festival Aleste, cujo cartaz traz todos os anos à capital da Madeira, os nomes mais relevantes da atualidade. Fora de horas, é o carismático La Flama Blanca, um gajo que gosta de tocar discos e transformar a noite lisboeta num baile tropical muy caliente.

Diz a expressão que as coisas não acontecem por acaso e, quem o afirma, é capaz de ter uma certa razão. Chegou a Lisboa para estudar, mas acabou por estudar menos do que era expectável. Vim estudar Produção e Marketing de Eventos, concluí o 1º ano e comecei a trabalhar no Musicbox como PA. Ao fim de 2 ou 3 anos, entrou para a programação desta casa e por lá se estabeleceu. Hoje dedica-se exclusivamente a esta função.

Desde cedo ligado ao ambiente noturno – o seu pai geria uma discoteca na Madeira - foi mais ou menos inato começar a trabalhar, não houve assim grandes cenas. O Flama é apologista de que neste tipo de trabalho, ganha-se com a experiência e não propriamente pelos estudos.

Um dos concertos mais marcantes do seu percurso até hoje foi, definitivamente, o projeto de final de ano. Decidimos fazer uma homenagem ao “FMI” do José Mário Branco, que fazia 20 anos desde que tinha sido cantado. E conseguimos envolver o José Mário Branco e uma série de malta, como o Kalaf e o Sam the Kid. Foi incrível. Ter sido permitido que se fizesse uma audição pública do “FMI” – porque é proibido fazeres audições públicas – foi muito especial.

Enganem-se aqueles que presumem que um programador leva uma vida ténue. Imagina passares as tuas 8 horas de trabalho num escritório a ouvir música. São 8 horas a ouvir música cada vez mais alta, porque estás a ficar cada vez mais surdo. É ouvir o mais diverso tipo de música que se possa supor. É estar a pensar na música e ponderar no que é que se pode fazer à volta daquela música; e repetires esse processo cinquenta ou sessenta vezes ao longo de um dia.

Trabalha de dia para fazer acontecer de noite. Contudo, a antecedência desejada nem sempre é fácil de se executar. Aberto 24/7, o Musicbox fechou 2016 com 400 concertos e 1200 Djs, portanto eu não consigo trabalhar com seis meses de antecedência, como eu adoraria, admite. É obrigatório fechar a programação, no mínimo, um mês e meio antes da sua realização e já estou mesmo ali a queimar o tempo! Dois meses, se corre mesmo bem, sem imprevistos.

Na verdade, Flama tira 15 dias do mês só para a programar e os restantes para resolver outros assuntos, como a definição de estratégias juntamente com o departamento de comunicação, conhecer outros artistas ou fazer digging. Qualquer coisa que não seja falar ao telefone sobre percentagens, cachets e a negociar com os agentes, explica o programador. Organizo-me com muito caos, muito a reagir ao momento.

Quando há coisas a acontecerem todos os dias da semana, não te podes dar ao luxo de não ouvires as pessoas, comenta Flama. É óbvio que, por exemplo, os fins-de-semana são dias que eu privilegio muito mais, faço questão que tenha a minha assinatura e que seja eu a contactar. Contudo, há igualmente espaço para que o contrário também ocorra: se há coisa que eu gosto é de me sentar e discutir ideias. Há muitas noites que são premium, porque trabalho com a Filho Único, a Amplificasom, a aFirma, etc. Adoro mesmo trabalhar em parceria e, se não fosse assim, estava fechado no meu mundinho e fazia dois concertos por mês.

Afinal, de que qualidade primordial se constrói um bom programador? Tesão. Essencialmente tesão, e di-lo sem quaisquer rodeios. Podes perceber imenso de música, conhecer bandas do mundo inteiro e ter agentes a fazer-te os melhores deals. Mas se não tiveres tesão para fazer uma coisa em que acreditas e arriscas – no meu caso, eu arrisco mesmo muito – não te vais sentir completo.

Texto: Teresa Melo

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