Bunny O’Williams: Serpenteando no Underground

Bunny O’Williams, o alter-ego de Inês Coelho, move-se na terra com a mesma liberdade de quem ocupa o espaço. Esta viajante sónica espalha pelo circuito lisboeta a fé etérea e díspar ao ouvido do comum mortal. Uma verdadeira queen das noites na capital, dá asas às suas macumbas sempre com a mesma intenção: a de unificar estilos - e, claro, incendiar a pista.

Bunny cruzou-se com a Inês? Foi bem mais forte do que isso. A Bunny abalroou a Inês, conta entre risos. O “embate” coincidiu com o surgimento das Twisted Sisters em 2010. Inês trabalhava no Boca do Inferno. Acontecia que na altura, saías à noite e não havia nada de rock a não ser indie. Nunca fui a maior fã de indie nem a Cátia, a outra twisted sister. Estava criado o mote para as "irmãs gémeas” começarem a passar som. Assim mesmo, para nós e para os nossos amigos, justifica. Ouvir fora de casa o que ouvimos em casa. E logo na primeira noite, quando a Bunny surgiu, os amplificadores rebentaram. Não sabíamos usar sistemas de som, ninguém nos tinha ensinado nada. Foi assim uma cena, uma aventura.

O amor à música é genético. Pai músico, o contacto foi antecipado e cedo começou a ir a concertos. A minha razão para sair de casa não era para conhecer pessoas, sempre foi para ir ver concertos e curtir, explica. Música, música, música. É isso que me faz sair da cama todos os dias. É paixão mesmo. Acho que não há nada que se equipare. É o que gosto de fazer. Se ficasse surda morria.

Foi na altura quando estava no bar Alburrica, no Barreiro, que Inês fez os primeiros contactos para trabalhar como produtora de eventos. O nosso objetivo era que todas as noites fossem diferentes. Se numa noite tinhas crust, na outra tinhas 80’s foleiro. Se numa noite tinhas Blues, na outra tinhas Black Metal. E toda a gente reunia-se lá. As pessoas estavam juntas não para se mostrar, mas para passar um bom bocado a ouvir boa musica independentemente do estilo. Às vezes até era má e mesmo assim não julgavam. E acho que isso faz falta cá em Lisboa. Daí ter começado a produzir eventos para ver se acabo com a coisa da “cena”, refere.

A expedição prossegue. A Sónia Câmara [DJ SONJA, Editora Labareda] fez o convite para uma colaboração na Rádio Quântica e Inês acabou por ficar com um show para si, o místico Macumba Borealis. Aí pensei, claro que quero continuar a passar som, mas gostava de levar mais pessoas comigo que de outra maneira, não teriam tão boas condições para trabalhar.

Decidiu avançar com o Bode Respiratório. A primeira edição foi no Club Noir. Uma noite incrível de música de A a Z. Passei desde os anos 50 aos dias de hoje e de todos os géneros, sem exceção. Era tudo malta que estava ali pela música. Foi brutal ver isso a acontecer, no centro de Lisboa. Não houve um único disco pedido. E isso diz tudo. E foi mesmo lindo, recorda.

Do entusiasmo à entusiasta, surgiu a hipótese de fazer o segundo Bode Respiratório no Rive-Rouge em finais de janeiro deste ano. Wildnorthe, Nancy Knox e Titz Vagabond juntaram-se à equação. Ideia absolutamente explosiva. Lembrei-me de juntar várias vertentes artísticas num espaço que é brutal e que tem as melhores condições. Do rock psicadélico à eletrónica vibrante, este programa assumiu-se desde o início que quebrar barreiras era a epígrafe. Não tens de fazer parte de cena nenhuma. Se sais de casa para ir ver um concerto é porque gostas da banda, não é porque queres que fiquem a olhar para os teus ténis. O Bode Respiratório existe por causa disso.

“There are no guilty pleasure, everything is pleasure”, disse-lhe o Dj Boy Named Sue, um dia destes. Talvez seja o que melhor ilustra a sua estética sonora, nessa perspetiva de que não há uma só tendência, um só conceito, um só princípio. Há sim, a liberdade de seleção e a vontade de apostar. De Black Sabbath a Kate Bush. De Rita Lee a The Damned. De Jibóia a Keep Razors Sharp. Não há espaço para fronteiras e acho que não tenho de escolher. Não tenho de me dedicar a um estilo.

Daí vem a regra número um, gostar do que se está a fazer, seguida pela número dois, não ter medo de arriscar. A vida é feita de opções e eu escolho sempre o risco. Nunca tive medo de nada. Tem de haver alguém, senão não há evolução e nem lugar para as coisas novas que se andam a fazer. É preciso criar conceitos diferentes.

É o ciclo das interações entre quem cria, difunde, escuta e consome. Hoje em dia é muito fácil pores música num mp3 e ser DJ. Mas para pessoas como eu, não é tão simples assim. Eu não só invisto muito dinheiro em música, como faço questão de ter as últimas coisas de bandas portuguesas porque é uma responsabilidade minha, como DJ, a de divulgar a música dos outros. O mínimo que posso fazer é comprar a sua música para continuarem a fazer o seu trabalho e eu o meu.

Tanta foi a ousadia que, é por estas e muitas outras razões que Inês, com ou sem querer, é já um elemento disruptivo dessa plataforma emergente em Lisboa onde música e gente comunicam entre si. Mas atenção, eu não faço música. Eu quero é ser uma boa Dj. E afirma- o com a confiança de quem vai continuar assim por muito mais tempo.

podem seguir a Bunny O'Willimans no facebook:

@bunny.o.williams // @twisted.sisters.666 // @boderespiratorio666

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por: Teresa Melo
fotografia de capa: Estefânia Silva
fotografia 1, 2, 3: Pedro Roque

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