Ana Figueiredo: “Daqui a 10 anos vamos ter uma indústria da música, pelo menos no sector independente, muito mais forte em Portugal”

Em pleno 2017, a evolução tecnológica tem criado tantas perguntas como respostas. Terão as editoras independentes um papel ainda mais relevante nos dias de hoje? Que ferramentas são elementares para atuar e que tendências são apenas um “hype”? O que melhorou e o que é que ainda falta para avançar?

Segundo a Ana Figueiredo, que colabora a tempo inteiro na Associação de Músicos, Artistas e Editoras Independentes (AMAEI), as editoras e os músicos independentes portugueses conseguem hoje reconhecer os novos elementos em jogo e, como tal, têm procurado capitalizar ao máximo todos os seus pontos fortes. Ao pensar e atuar de forma empreendedora, estão a preparar-se para um futuro mais sustentável e proeminente naquela que é uma das indústrias mais complexas e competitivas do mercado globalizado.

O progresso deste contexto completamente novo em Portugal impulsionou a fundação em 2012 da AMAEI como um organismo que representasse efetivamente os produtores fonográficos, ou seja, as editoras. Nessa altura, percebemos que não havia nenhuma entidade onde um editor, artista ou qualquer pessoa interessada na indústria da música pudesse recolher informações de uma maneira centralizada, esclarece.

A partir desse momento, o seu trabalho centraliza-se na defesa de quem produz fonogramas. No entanto, não somos limitados e também temos músicos autoeditados como associados. Os direitos são os mesmos, o que interessa é o proprietário da gravação do master, logo há direitos, explica a Ana. Há tantas bandas a lançar discos agora, que estas são as pessoas que precisam de ter um acesso facilitado à informação, por isso aceitamos como associados todos estes intervenientes.

Na AMAEI existem dois focos de atenção que permanecem muito ativos: por um lado, a profissionalização e defesa dos direitos; por outro, a internacionalização e a capacitação dos agentes, muito ligado à sua formação:

Queremos capacitar as empresas e os artistas a adquirir os conhecimentos necessários para que possam defender os seus direitos, estar registados em todos os sítios onde devem estar registados, saber exatamente os direitos que têm e como é que trabalham as várias distribuidoras digitais, saber fazer as escolhas mais informadas e assim, conseguirem posicionar-se no mercado para garantir o maior benefício. Todos estes fatores são essenciais para a sustentabilidade a médio longo prazo das editoras e dos músicos.

A carência de profissionalização está associada a situações básicas, como por exemplo, saber identificar que tipo de contratos se vai assinar. Notamos que existe um grande desconhecimento, que é natural que falte, porque estamos a falar de uma área em que a grande maioria das pessoas trabalham por paixão, mas isso não significa que não devam procurar ganhar dinheiro. Perante a dificuldade desta indústria, é importante nunca toma-la como garantida, é preciso conhecer as pessoas e as novas tecnologias para manter uma dinâmica, saber o que é que está a acontecer noutros locais...Em Portugal há um bocado falta disto.

Ainda a nível da internacionalização, a AMAEI tem também desenvolvido protocolos com as principais feiras de música, absolutamente essenciais para bater terreno. Neste momento, a associação é parceira do Reeperbahn Festival (Alemanha), do Eurosonic (Holanda), do Medimex (Itália) e do Bime (País Basco). Sendo uma associação é mais fácil negociar com as organizações para conseguir registos profissionais com desconto, stands para que os associados tenham acesso de forma mais barata ou show cases de apresentação de alguns artistas. O que fazemos é organizar o grupo.

Afinal, o que está a mudar?

Várias coisas, sobretudo em termos de mentalidade. Tanto ao nível dos artistas nacionais, que pensam na internacionalização logo no início das suas carreiras, como ao nível dos internacionais que começam a ultrapassar o estigma que de Portugal só vem o fado. Tenho essa perceção quando andava nas feiras internacionais. Além disso, os profissionais internacionais começam a ter noção de que em Portugal há música de vários estilos com um nível em termos de produção com uma qualidade superior ao expectável com tão pouca estrutura e apoios.

No entanto, a Ana salienta que a estruturas governamentais e os seus representantes devem estar igualmente envolvidos neste processo e que percebam que a produção cultural a nível da música pode trazer dinamismo e muito rendimento para o país. Por vezes, um pequeno investimento pode fazer uma grande diferença. Nas suas palavras, a música é uma área que tem sido muito descurada e que ia ganhar bastante com um bocadinho de mais atenção.

Indiscutivelmente, o digital atrai oportunidades e a Internet é um meio substancial de divulgação e distribuição de música, ainda mais para a indústria independente. Como tal, torna-se imprescindível entender que tipo de estratégias de exportação se podem integrar. Com o digital em plena expansão, estamos numa fase em que a música vai finalmente crescer. Futuramente? Gostava que os profissionais portugueses pudessem saber acompanhar as novas tendências – lá está, está ligado à profissionalização. Falta um bocadinho, mas daqui a 10 anos vamos ter uma indústria da musica, pelo menos no sector independente, muito mais forte em Portugal.

Texto: Teresa Melo
Fotografia: 1ª e 2ª - Marta Cavaco; 3ª - AMAEI

Partilhar