Pedro Roque: "Sempre fiz as coisas numa estética Do It Yourself"

Interage com a fotografia através da música. Em oráculos monocromáticos, Pedro Roque admite que não sabe fazê-lo de outra maneira, porque a sua visão das coisas é assim. E é a puxar os contrastes, que o fotógrafo nos apresenta outros lugares - e outros ruídos.

Há 12 anos, numa garagem no Pinhal Novo, Pedro fotografava um concerto dos Ervas Daninhas. “Coincidiu quando comprei a minha primeira câmara e foi aí que descobri que gostava muito disto...de captar esta energia e, por incrível que pareça, essas primeiras fotografias já foram a preto e branco”. Acidentalmente, a estética acabou por assumir-se e é vê-lo continuamente a mergulhar por baixo da superfície para nos mostrar o ventre da subcultura musical.

A lente aponta e documenta a envolvência desconhecida e fascinante de um nicho musical mais reservado. “Estou constantemente a visualizar imagens, por isso antecipo-me ao concerto”, diz. “Gosto muito do grão, do sujo, e não perco tempo a editar imagens porque não quero grandes artimanhas nas minhas fotografias. Gosto de simplificar”.

Mais do que música ou estilo, é uma questão de carácter. Tanto que há quem o conheça como o fotógrafo punk “porque sempre fiz as coisas numa estética Do It Yourself”, evitando sujeitar-se a outros. “Claro que quando são concertos grandes é diferente, mas tento estar só dependente de mim próprio”.

O propósito mantém-se como instantâneo, forçado um pouco até pela velocidade dos tempos. Pedro acompanha de perto as bandas, atrás e em frente ao palco, antes e depois do concerto. A sua forma de trabalhar é esta, a de se misturar no espaço e, “pode parecer esquisito, mas gosto de fazer parte do que se está a passar naquele momento, por isso é que estou a ver a banda e a fotografar ao mesmo tempo. É estranho, mas acontece. Gosto de furar a bolha e misturar-me no que me rodeia”.

Muito além das roupas negras e dos cabelos compridos, dos riffs fortes e distorções musculadas, da energia caótica e da atmosfera densa, a fotografia tornou-se a chave de entrada de um lugar acessível a poucos, o da preparação. “Interessa-me esse lado, que é uma coisa que o público em geral não conhece. Sei que o pessoal do metal normalmente não gosta de se expôr a preparar-se, mas como conheço bem o estilo e estou à vontade, as fotografias acabam por ser publicadas”.

A actuação de Stephen O’Malley em Serralves em Dezembro de 2016 foi um dos casos afortunados a registar no percurso do Pedro. “Já tínhamos estabelecido uma ligação e quando o músico voltou cá outra vez, perguntei-lhe se podia tirar-lhe umas fotografias. Ele aceitou logo e lá fui de boleia com uns amigos. Foi mesmo surreal porque estava a trabalhar com um artista que gosto”. Com isto, chegou um dos retratos mais icónicos do seu trabalho até ao momento. “Fico contente por ter esse registo. A maior recordação que posso ter de um artista é ter um retrato dele feito por mim”.

Concertos ou festivais? Mixed feelings. Pela familiaridade e a envolvência de quem está a assistir, Pedro escolhe sem grandes desvios o Swr Barroselas Metalfest e o Barreiro Rocks como os predilectos. “Também já fotografei um festival grande, o Hellfest, em 2012, quando fui acompanhar as Twisted Sisters. Aí tive uma percepção diferente de como se passam as coisas lá fora. Enquanto cá estão uns cem fotógrafos enfiados num pit, lá entravam no máximo 20 fotógrafos e, de dez em dez minutos, vinham outros. Nunca estava muito saturado”, explica.

Não lhe interessa os projectos ou as reportagens documentais convencionais. Desde que começou a fotografar, sabia que queria apresentar-se de uma maneira distinta do padrão e, sempre, muito factual. Contudo, a saturação do meio é uma evidência com cada vez mais peso. “Há fotógrafos e pseudo-fotógrafos a mais. Muitos vão pela borla do concerto e isso chateia-me porque quem leva as coisas mais a sério prejudica-se um bocadinho”.

Visualmente mais bruto e mais brutal, este hobbie – que é tão ou mais sério que profissão – é acima de tudo sincero. “Neste momento estou numa fase em que sou mais selectivo e digo muitas vezes que não. Se não faz sentido, não me meto nessa”. Eyes of Madness como alter-ego, está no tempo e no lugar certos à espera que algo novo comece a fervilhar.

podes acompanhar o trabalho do Pedro Roque aqui: http://eyesofmadness.tumblr.com

-

por: Teresa Melo
fotografia: Pedro Roque

Partilhar