Raquel Lains: A música independente no sítio certo

Prestando total atenção à música que se faz em Portugal, torna-se cada vez mais claro perceber as suas transformações. Há 13 anos de volta desta arte, a Raquel Lains, promotora da Let’s Start a Fire é ainda mais otimista sobre o novo panorama musical e acredita no crescimento contínuo das rotas não tradicionais da indústria. Isso, e uma imensa vontade de ir cada vez mais longe.

Existem várias premissas indispensáveis para narrar o percurso da Raquel. Tudo começou em Leiria. Durante os intervalos da escola, aquela loja de música no centro comercial Maringá, a Auditu, tornou-se paragem obrigatória durante muitos anos. Aumentava a curiosidade pelos discos e as sugestões das proprietárias que tinham um gosto extraordinário alimentavam a vontade de não parar de ouvir música.

Até que veio para Lisboa. Entrou na Universidade Católica para estudar Comunicação Cultural, esperando que dentro das múltiplas possibilidades e saídas profissionais, descobrisse a sua vocação. Enquanto desfolhava o jornal Blitz, encontrei um anúncio duma editora que precisava de um colaborador. Telefonei logo. E consegui o emprego, refere. Era na Sabotage e na Zounds. Conhecer o Zé Maria foi amor à primeira vista, conta entre gargalhadas. Aí fez um pouco de de tudo, da assistência de produção de concertos, à promoção, passando pelo desenvolvimento de conteúdos e gestão do relacionamento com as editoras nacionais e internacionais.

Logo após a sua saída da Sabotage, foi contactada pela Universal Music Portugal para fazer uma substituição como promotora de rádio. Felizes acasos, o que era suposto serem 15 dias, durou 2 anos, refere. Daí, aproveitou todos os benefícios de estar a trabalhar numa major e aplicou-os naquela que era a sua prioridade: criar uma promotora musical em nome próprio.

E aconteceu mesmo. Estava em 2004 e o ímpeto foi dado durante o curso de Produção e Marketing Discográfico na ETIC. Fã incondicional dos Mão Morta, Raquel decidiu que o seu trabalho deveria ser sobre eles. Após o primeiro contacto, ofereci-lhes os meus serviços de promotora sempre que precisassem. A proposta foi aceite para o lançamento do álbum Nús. Este foi o primeiro trabalho que fiz a sério com a Let’s Start a Fire.

Como mote, a Let’s Start A Fire trabalha somente com bandas com as quais a Raquel se identifica de forma total, fugindo a géneros, nacionalidades e reconhecimento. É a qualidade sonora e empatia musical quem decide e não se inibe na atenção e entrega dispensada aos músicos, garantindo sempre que a divulgação de cada disco ou banda é trabalhada especial e individualmente.

Basicamente, o meu papel é divulgar a música junto dos meios de comunicação. Sem essa divulgação, a maior parte do público não chega a conhecer as bandas que por aí andam, explica. Apesar do peso cada vez mais forte das redes sociais, a divulgação nos media continua a ser essencial para uma banda chegar ao grande público e conseguir ser conhecida por ele.

Quando é que um artista sabe que chegou a altura de contactar uma promotora? Se a sua identidade não está bem esclarecida, a imagem não será coerente e a sua música não estará preparada para ser mostrada ao público. Quando a banda sabe a sua direção e sabe bem a música que quer fazer, penso que é aí que se encontra preparada para dar o passo de se mostrar ao público e à própria indústria musical.

Quase sem exceção, são as bandas que a procuram. Atualmente, a Raquel é responsável pela promoção dos Capitão Fausto, Noiserv, You Can't Win Charlie Brown, Minta & The Brook Trout, Benjamin, Luís Severo, Cave Story, Ganso, Trêsporcento, Tipo, Tomara, Sabotage Rock 'N'Roll Club, Galo Cant'às Duas, Vaarwell, oLUDO, Joana Barra Vaz, Rodrigo Amado, Mariano Marovatto, The Sunflowers...No curriculum contam-se ainda Mão Morta, Pop Dell'Arte, The Legendary Tigerman, Dead Combo, peixe:avião, Sean Riley & The Slowriders, Terrakota, DJ Ride, e tantos outros. Salienta, por exemplo, que o primeiro contacto com o Blacksheep Studios foi através da promoção a Riding Pânico, banda co-fundada pelo Carlos Bb, quando este ainda era o baterista do projeto.

De postura divertida e amorosa, a Raquel não esconde que o maior desafio da sua profissão é o espaço cada vez mais diminuto nos media dedicado à música. No entanto, tem conseguido ultrapassar as resistências e toda a sua experiência tornou-a numa das promotoras independentes mais importantes do nosso país.

Texto: Teresa Melo
Fotografia: Vera Marmelo

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