Por onde serpenteia BRUXAS/COBRAS: Entrevista com Ricardo Martins e Pedro Lourenço

Torna-se realmente inexequível desincorporar o nome da sua sonoridade. Bruxas/Cobras é um duo português que se fortalece na bateria dilacerante do designer Ricardo Martins (Adorno, Cangarra, Filho da Mãe, Jibóia) e no baixo sincopado do ilustrador Pedro Lourenço (Sei Miguel). Juntos manipulam o som para criar uma união de ritos encantatórios musicais.

A primeira ideia surge em setembro de 2015. Não trazíamos grandes premissas. Havia só uma vontade de ser o resultado de algo que aquelas pessoas iriam compor neste desafio e ver o que é que se conseguia criar, conta Pedro. Às tantas, as primeiras músicas começavam a ser compostas e os dois artistas prepararam um conjunto de canções para gravar e tocar ao vivo.

O primeiro concerto foi numa exposição do Pedro. Nunca mais!, diz o ilustrador entre gargalhadas. Foi um sitio confortável, onde tivemos de avisar a vizinhança que provavelmente naquele dia e àquela hora iria haver mais barulho do que o normal. Brinco muito com isto! Parece uma ideia porreira, mas acabou por exigir um bocadinho mais de mim. Prefiro as coisas salvaguardadas, separadas. Acho que voto nessa fórmula no futuro, comenta.

Concertos, não foram assim tantos até agora, explica o Ricardo. No inicio era um bocado aquela descarga de estarmos a tentar descobrir-nos como banda ao vivo e agora, nos últimos concertos, senti que as coisas estão superconfortáveis e que estamos ali um bocado no nosso mundo. Está tudo menos visceral e ao longo do tempo foi perdendo essa inocência e agressividade, mas logo criou-se um diálogo.

Depois da presença em festivais como Mucho Flow 2016 (Guimarães) e Barreiro Rocks (Barreiro) e os concertos no Damas e no Sabotage (ambos em Lisboa) – a somarem-se à experiência de ambos noutros projetos - os silêncios entre os temas afinam-se. Para o Ricardo, somos sempre extremamente exigentes, acho que isso nunca vai mudar e ainda bem. É um bocado esse cariz que nos leva a chegar ali a alguns pontos…acho que nunca vamos estar totalmente contentes com as coisas. Insatisfação permanente? Não sei, mas se calhar é isso que nos permite estamos constantemente à procura e não ficarmos muito acomodados com a forma. Há alguma coisa que temos de manter nesse descontentamento, acrescenta o Pedro.

Bruxas/Cobras entraram nos Black Sheep Studios em Junho de 2016 para gravar as cinco músicas do EP. Aspirava-se algo muito direto: chegar, fazer uma gravação live e não pedir demasiado. Assumir todas as falhas e pequenas imperfeições, aprender nesses movimentos e dinâmicas naturais. No fundo, aproximar àquilo que são verdadeiramente os seus concertos.

A primeira coisa que eu gravei nos Black Sheep Studios foi em 2005, mas neste caso, a ideia concreta era gravar com o Guilherme Gonçalves. Foi a primeira coisa em que pensamos. Sabíamos que era uma pessoa que poderia saber onde é que queríamos chegar, fazer a tradução daquilo que estava nas nossas cabeças e, foi nessa via que chegamos aqui, explica o Ricardo.

O estúdio é como uma sala cheia de brinquedos, continua. No meu caso, eu usei um dos kits de lá e resto foi tudo meu. Mas acabamos por usar aqueles micros da Moths no prato de choque, por exemplo. Para a voz foi o The Copperphone e isso foi um input do Guilherme, refere Pedro. A amplificação usei lá e um ou outro pedal da gaveta que não resisti em experimentar. Naquele momento também descobrimos um bocado mais sobre o que é que era isto.

“Bruxas Cobras” poderia ser um palavrão mesmo ao estilo do Capitão Haddock quando está muito zangado. Com um ponto de exclamação no final pode ter aquele “punch” de uma pedra atirada. Onde se encaixa afinal? Também estamos a tentar encontrar essa interpretação, mas não pensamos assim muito nela. Concentramo-nos tanto na parte musical como na parte gráfica e se existe uma simbiose fixe. E o nome veio só, serviu bem e foi perfeito. Foi continuar, termina Ricardo.

https://www.facebook.com/BRUXASCOBRAS/

Texto: Teresa Melo
Fotografias ao vivo: Vera Marmelo

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