Pedro de Tróia: Natureza Sonora e Desassossegada

Pedro de Tróia fala a língua da música com pronúncia independente e é aí que se lhe reconhece. Natural de Coimbra, seguiu para Viseu e logo para Lisboa. Coincidências felizes fizeram deste miúdo inquieto um dos fundadores da editora discográfica Azul de Tróia e membro dos notáveis Capitães da Areia.

Tinha acabado de chegar a Lisboa há pouquíssimo tempo. Um dia daqueles, entrou na sala o Manuel Fúria que lhe disse “Meu porque é que não formas os Capitães na Areia?”. Com este desafio tão espontâneo, as coisas começaram a acontecer. Na música não podes estar parado, começa por dizer. Eu gosto de estar ativo por vários motivos: para evoluir, ensaiar, escrever, cantar, produzir. E enquanto preparava o segundo álbum da banda, “A Viagem dos Capitães da Areia a bordo do Apolo 70” (2015), criou a sua editora.

Um à vontade em especial para a escrita tem sido o passaporte para umas oportunidades engraçadas, como o próprio descreve. Também parte muito de as procurares, porque senão ninguém vai saber que existes. Os primeiros passos foram dados na criação de letras para bandas menos conhecidas, mas neste momento, estou mais interessado num projeto próprio, com algumas canções minhas. Alternando, evidentemente, com uns postais de vez em quando.

Entra pela primeira vez no Blacksheep Studios com outra tarefa em mãos. Foi convidado para produzir o disco dos Rua Direita. Entre diversas opções, percebemos que aquele estúdio tinha todas as condições e mais algumas para se fazer um bom trabalho. E digo isto a 100%. O Carlos Bb foi impecável e o estúdio tem excelente material. Vejo o Blacksheep como um estúdio de música a sério. Para a malta que sabe o que está a fazer.

Sempre atento às transições, acredita que se assiste a uma fase fracturante em vários sentidos. Esta geração está muito aberta a novas experiências. Somos mais disruptivos que os nossos pais. Será que essa mudança, que se revela em tantos níveis, também inclui a música?

Sou da opinião que as bandas que agora existem não são necessariamente melhores do que as que já existiram. O processo é mais fácil do que há 20 ou 30 anos atrás, mas quando as condições são mais adversas, geralmente desenvolves a tua criatividade a um ponto mais alto. A interligação social e tecnológica é uma realidade, assim como a capacidade acelerada dos diversos meios de comunicação. Como estamos todos ligados, e ainda bem, é tudo muito mais fácil existires. Se isso se revela em criatividade? Não acho que sejamos mais criativos, nem mais originais. Eu vejo a criatividade como uma espécie de reciclagem do que já foi criado.

A trabalhar no sector musical há alguns anos, Pedro é confiante quando diz que Portugal está a tornar-se um bom espaço para a produção musical independente, graças a uma série de pessoas que trabalham diariamente para que essas condições efetivamente existam.

Todos os artistas emergentes precisam de ajuda. Inicialmente não dão um rendimento muito grande, é um facto, mas é preciso haver um investimento de alguém para que possam crescer. Ocorre-me o Pedro Azevedo do Musicbox. O facto de haver ali aquele palco no Cais do Sodré com aquela curadoria abrangente, é das melhores coisas que há em Lisboa. O Hugo Ferreira da Omnichord Records, batalha imenso para criar essas condições, tanto em Portugal, como lá fora. E repente, um Henrique Amaro, um Pedro Moreira Dias ou um Joaquim Quadros que estão sempre híper atentos às coisas, reparam na tua música. Isto dá-te um alento incrível. São pessoas como estas que criam o solo para que os artistas o possam pisar.

Segundo o Pedro, a única forma de tornar este processo mais justo para todos os músicos portugueses é que os canais de comunicação lhes dediquem mais tempo e espaço de qualidade. Ver só o número de visualizações, não é apostar. Falta alguém que realmente seja um excitado pela música portuguesa e que diga “meus amigos, este gajo é muito bom, eu sei que ainda ninguém o conhece, mas vamos pô-lo aqui a tocar”. É um trabalho que, por exemplo, a Antena 3 e na Vodafone estão a desenvolver super bem.

Perante este cenário, pede-se que enumere uma falha. Pedro salienta a incoerência no momento de decisão. Devia haver um equilíbrio bem concebido em quem tem realmente o poder de chegar ao grande público, alguém que seja muito conhecedor da música portuguesa. E então ficou a planar a derradeira questão: esses curadores efetivamente existem?

Texto: Teresa Melo

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