Na régie com: Tatanka

Pedro Taborda, habitualmente conhecido como Tatanka, traz consigo humildade, autoconfiança e dedicação absolutamente majestosas. Em pequeno, queria ser rockstar e, afinal, parece que o sonho de miúdo se demonstrou verdadeiro. Para além de frontman em The Black Mamba, é um dos técnicos do Black Sheep Studios.

Nasceu e cresceu em Sintra, lugar esse onde pela primeira vez se conectou com a música. Os meus pais eram meio hippies e eu era pequenito. O meu pai tocava viola e a coisa apareceu espontaneamente, não fui eu que a procurei, explica Tatanka.

Eis que chega a adolescência com todo o seu atrevimento e audácia inerentes. Surfista devoto, Tatanka entrou no cenário reggae - género musical muito influente junto às zonas costeiras portuguesas do surf - com a sua primeira banda.

Eramos todos amigos e surfistas. Era uma banda muito engraçada, muito divertida e às vezes tenho saudades desses tempos. Acontecia tudo de uma forma muito descomprometida, só pela música. Hoje em dia mudou, são coisas quase administrativas. Ter uma banda é como ter uma empresa e tens de estar a gerir mil aspetos que em nada se prendem com a música. São problemas de crescido. Faz parte da vida, enfim, mas às vezes tenho saudades dessa altura. Só tocar violinha e cantar…era super fixe.

Curiosamente, foi também nessa mesma altura que conheceu o Black Sheep Studios. Vim com um amigo que era de uma banda de hardcore super pesada onde o BB tocava, refere Tatanka. Anos mais tarde, vinha cá ensaiar com a tal banda de reggae, passado uns tempos entraram novos elementos e foi a primeira demo que eu gravei na vida.

A partir daí, acompanhou de perto a evolução do Black Sheep Studios. Isto continuava uma garagem, mas tinha uma régie muito estreita, muito artesanal. Foi muito engraçado assistir a estas mutações. Eu e o Daniel San ficávamos a fazer bounces pista a pista toda a noite e dormíamos aí, relembra o músico.

Fruto do contexto, a autonomia desenvolveu-se gradualmente e com ela o entusiasmo. Não estudei propriamente produção, nem era uma coisa que eu almejasse fazer, mas com a necessidade de fazer as minhas próprias musicas e de me tornar independente, somando à generosidade que o BB tinha (e continua a ter) em deixar-me vir para aqui curtir, muitas vezes à noite e sozinho – uma coisa que não acontece em lado nenhum que eu conheça – acabei por me tornar produtor e a fazer captações.

Num espaço de três anos, Tatanka fez os seus primeiros trabalhos. É uma coisa que tem de se praticar bastante, porque são todos fatores diferentes que demoram muito tempo a dominar até começar a perceber as lógicas e é uma logística que nunca mais acaba, justifica. Hoje em dia, gravo discos para outras pessoas e chamam-me “engenheiro chouriço”, comenta entre risos. Se não fosse graças a toda esta disponibilidade e facilidade do estúdio, eu nunca saberia mexer nos programas e nas máquinas ou gravar discos.

Embora autodidata, reconhece um certo grau de insegurança permanente por não perceber a essência dos conceitos na sua plenitude. Então, confia no instinto. Há conceitos e formas técnicas para perceber se está certo que eu não sei utilizar, mas é assim vou aprendendo. Quando corre tudo bem, é muito gratificante porque percebes que estás a ajudar as pessoas a materializar um sonho. Ninguém consegue fazer nada sem a ajuda de outras pessoas. Gosto de estar presente sempre que posso, foi isso que fizeram comigo aqui no estúdio e sinto que estou a retribuir de certa forma.

Não se pode afirmar que Tatanka desacelerou, especialmente agora que a sua família está a crescer, muito pelo contrário. Acho que não podia ter uma vida melhor. Estou super feliz por ter tomado este rumo e super grato por todas as pessoas que me ajudam, porque as coisas estão realmente a funcionar bem para mim.

Texto: Teresa Melo
Fotografia: 1ª: Fernando Piçarra; 2ª: Vitor Marques

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