Na régie com: André Pinheiro

Poderia dizer-se, sem hesitações, que polivalência é o seu apelido do meio. André Pinheiro, nascido em Aveiro há 32 anos, define-se como um “autodidata apaixonado”. Com a música e a técnica nas veias, André é um dos técnicos de som da equipa do Black Sheep Studios.

A música é que veio até mim. Aos fins de semanas os meus pais ouviam muita música e era como o dia de liberdade, o dia de expressão, o dia de relax, conta. Do bossa nova à música de intervenção portuguesa, os sons eram transatlânticos e desde cedo começou a interiorizá-los.

A curiosidade pela técnica, essa retirou-a primeiro da família: o meu pai, engenheiro eletrotécnico, mostrava-me o lado mais tecnológico da música e em casa tinha um amplificador feito por ele. Depois, os meus primos também estavam nesta área e eu queria viver o que estavam a viver.

No secundário, de passagem pelas Ciências e Tecnologias, chegou por fim ao curso de Som e Imagem. André relembra: na minha turma eram só músicos e foi lá que conheci e desenvolvi o meu conhecimento. Este curso deu-me imensa escolha e percebi aquilo que eu gosto realmente: a música.

Entrou no Black Sheep Studios em Setembro de 2016 por via do Guilherme Gonçalves. Conheci-o com os Macacos do Chinês quando precisávamos de um técnico de som. Íamos tocar no mesmo dia que The Vicious Five e o Guilherme era o técnico de som deles. Então, falamos com ele e aceitou. A partir daí, fizemos muitos trabalhos juntos, inclusive com Megadrive., explica. Perfil ousado e curioso, André perguntou-lhe certo dia se não haviam vagas no estúdio. Por acaso até preciso de um assistente, respondeu-lhe.

Os primeiros passos foram dados como assistente do Guilherme. Entretanto, o BB confiou tanto em mim que me convidou para fazer uma gravação sozinho, refere. E acrescenta que a partir daí, já gravei uns sons sozinho, outros com a ajuda do Bruno Plattier. Aos poucos, foi adquirindo a sua própria perspetiva.

Entre mistura e produção, André reconhece que o maior desafio até ao momento tem sido aprender sobre a captação que era uma coisa que eu estava apaixonado desde sempre. Aprender a conhecer os microfones. Eu sabia som, mas não conhecia o hardware.

Num dia normal, André chega ao Black Sheep Studios por volta das 11h para começar a montar o espaço. Há um ritual: tento saber o máximo possível sobre a banda antes desta chegar. Depois, saco os microfones que vou usar e faço o patch. Ponho cada elemento a tocar, faço a munição, os níveis, escolho microfones e timbres para captar o som, justifica. À tarde, todo rigor e atenção são necessários para resolver os problemas e no dia seguinte começar a gravar. Fora do estúdio, André divide o seu tempo entre Megadrive e o seu gato.

Não interessa muito quem é quem, mas desde que me esteja a soar bem, já me chega e é isso que procuro. Procuro o que me faz sentir e procuro potenciar isso ao máximo. A experiência mais intensa até ao momento? A banda francesa HIFIKLUB com todos os seus convidados especiais. Por exemplo, conheci a Lula Pena e, de repente, estava ali a gravá-la. Ver como é que trabalham as pessoas que admiro, ajuda-me a ter um “equilíbrio emocional” sobre o que é que estou a fazer, refere.

Na formação de uma ideia, André utiliza a sua própria forma de criação. O desafio é pôr vários chapéus diferentes. Vejo-a em todos os seus lados. Mas tens de ter uma grande agilidade mental para saíres e entrar noutra fase: agora sou mixer, agora sou manager.

Texto: Teresa Melo

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