No final de agosto de 2016, os Black Sheep Studios acolheram os Hifiklub para apoiar a criação de um projeto colaborativo muito particular: ao quinteto francês juntaram-se diversos músicos portugueses, originando uma sonoridade ímpar gravada ao vivo pelo Guilherme Gonçalves.
Hifiklub foi criado em 2007 pela vontade de Régis Laugier e Luc Benito (o primeiro baterista do grupo) em Toulon (FR), onde ainda estão sediados. Hoje, a banda é composta por cinco membros permanentes, entre os quais, quatro músicos - Nico Morcillo, Pascal Abbatucci Julien, Jean-Loup Faurat e Régis Laugier - e um artista visual - Arnaud Maguet - que desenvolve simultaneamente os trabalhos visuais e a imagem do grupo.
A criação de projetos no estrangeiro parecia uma viragem inevitável. Com uma base permanente bastante sólida, o grupo decidiu abrir-se ao experimentalismo e, na última década, esta determinação manifestou-se em inúmeras participações na companhia de centenas de membros ocasionais. “Digamos que somos um grupo aberto, an open band”, explica Régis. E acrescenta, “não existem critérios, exceto o de um desejo mútuo pelo intercâmbio artístico. Não temos limites estéticos ou territoriais nas nossas colaborações”.
A passagem pelos Black Sheep Studios não foi um acaso. “O estúdio foi recomendado pelos meus amigos Paulo Furtado [The Legendary Tigerman], Paulo Segadães [baterista de The Legendary Tigerman] e Afonso Rodrigues [Sean Riley & The Slowriders; Keep Razors Sharp] que já trabalharam aqui”, conta o músico. “São pessoas que eu estimo muito e em quem eu confio. Lá, conheci o Guilherme Gonçalves e o BB, e entendemo-nos imediatamente. As trocas foram simples e eficazes, compreendemo-nos bem. A diversidade e a qualidade do material do estúdio estão perfeitamente adaptadas às nossas expectativas”.
A conexão entre os artistas revelou-se inexplicável, mágico até. “Todos os participantes falavam uma linguagem comum e universal: a da música”. Como forma de fazer a primeira seleção dos convidados para este trabalho em particular, Régis - que visita Portugal regularmente - comprou uma grande quantidade de álbuns durante a sua estadia, ainda no início de 2016. O coletivo ouviu e a escolha foi feita pelos cinco membros principais.
“Alguns são verdadeiros amigos de há muitos anos. Paulo Furtado foi o primeiro convidado, que já tinha colaborado no nosso álbum French Accent (2007)”. Seguiu-se o Afonso Rodrigues, pela sua participação em How To Make Friends (2010). Em apenas quatro dias, para além dos dois músicos mencionados em cima, Rafael Toral, Joana Gama, Bernardo Devlin, Rui Carvalho, Yaw Tembe, Pedro Oliveira, Luís Fernandes, Calhau!, Guilherme Gonçalves, Paulo Segadães, Paulo Mesquita, Lula Pena e Ana Deus acompanharam Hifiklub nesta aventura que se traduziu em oito faixas. “É um projeto que nos chegou particularmente ao coração e estamos orgulhosos e felizes por conduzi-lo na companhia de todos estes convidados talentosos”.
Hifiklub regressou ao estúdio em finais de Outubro para registar em overdub a voz de mais duas cantoras. “Os restantes participantes intervieram paralelamente e à distância, pelos seus próprios meios. No final, estarão vinte convidados no álbum, todos portugueses”, explica Régis.
Da cena pop aos cenários mais extremos, cruzando entre o jazz e a música tradicional, parece existir um ponto harmonioso nestes encontros. Não existem regras, limites ou fronteiras. Porém, a harmonia assume-se na perfeição. A data para o lançamento deste álbum não está prevista, mas será certamente este ano. “Após a mistura em estúdio do álbum, procuraremos uma editora para este efeito e esperamos que seja portuguesa. Fazer dois ou três concertos de lançamento (Lisboa, Porto e Braga) é uma ideia que nos satisfaz bastante”.
Texto: Teresa Melo
Fotografia: Paulo Segadães e Arnaud Maguet