Uma music manager em Portugal: Entrevista a Rafaela Ribas

Rafaela Ribas é a diretora de uma das agências mais relevantes da indústria musical portuguesa, a aFirma. Intransigente e com uma habilidade inata de organização, Rafaela é uma mestre do agenciamento e management de carreiras e trabalha atualmente com bandas como Keep Razors Sharp, Miguel Angelo, Mazgani, Sean Riley & The Slowriders e D’ALVA.

Movida pela sua própria curiosidade, em 1996 Rafaela parte para Londres porque queria sair do Porto e ir para um sitio onde houvesse muita música. Eu adorava tudo o que era música britânica e achei que Londres era espetacular, conta. Candidatou-se ao curso de Engenharia Eletrotécnica e entrou. O primeiro passo já estava dado.

Enquanto estava a tirar o curso, ia a muitos concertos e via coisas mais underground. Gostava muito de seguir esse circuito de bandas mais pequenas e, como sempre tive uma grande tendência para o planeamento, acabei por ter amigos que tinham bandas e que me vinham pedir apoio, explica.

Mais tarde, abriu a sua primeira editora discográfica com o Christian Landone, hoje consultor técnico da sua atual empresa. Naquela altura, o Christian estava a fazer um doutoramento, era meu professor e ficamos amigos. Como tínhamos o interesse em trabalhar em música, montamos uma empresa discográfica, refere a Rafaela. Tinha bandas muito pequeninas, lançávamos os discos, fazíamos o management e o booking das bandas, que era da minha responsabilidade, e gravávamos os discos, que era da responsabilidade do Chris. No total, foram lançados oito ou nove discos, mas nunca chegaram a top nenhum e só nos fizeram perder dinheiro, refere a agente entre risos. Mas foi uma ótima escola.

Quando Rafaela regressou a Portugal, a empresa fechou. A música não me pagava as contas e disse para mim que “música, agora, só para ouvir”, comenta. Mas isso durou só 3 meses. Quando cá cheguei, conheci os Easyway que me convenceram a trabalhar com eles e comecei a fazer o management da banda, mas sem empresa associada. Predestinação? Provavelmente.

Tomar as rédeas de um negócio na música pode ser estupendo, mas é igualmente rigoroso e exige um “malabarismo” entre diversas funções em simultâneo. O manager é o representante do artista, aquele que define as estratégias e faz a ponte entre o artista e toda a sua envolvência, desde editoras, imprensa, produtoras de espetáculo, fãs, etc. É a pessoa que aconselha e sugere, juntamente com os artistas, o melhor para a sua carreira. Nesse sentido, acho que o manager serve para impulsionar o trabalho criativo que os artistas fazem.

Contudo, e contra mim falo, a importância daquilo que eu faço é relativa. Um artista a solo, que saiba muito bem aquilo que quer e que tenha um “know-how” prévio, não precisa de um manager e consegue fazer as coisas sozinho, desde que com apoio de um assistente que implemente as suas ideias.

A prática faz a perfeição, ouve-se por aí, e na música não é exceção. Para todas as bandas que estão no principio do seu percurso, Rafaela sublinha o papel fulcral dos concertos: é preciso tocar, tocar e tocar até serem bons. Enquanto não forem bons, não vale a pena darem o salto.

Nas prioridades, ressalta os ensaios e o método de trabalho, porque se quiserem ter uma banda que quer crescer, é preciso ter um horário, uma meta, definir os estilos musical e estético, alimentar as redes sociais. E só quando chegarem a um ponto que têm alguns fãs, só aí é que deve haver uma abordagem a terceiros – seja uma editora, a um agente, ou a outro. Antes disso, não vale a pena. Ter um manager envolvido numa fase bastante cedo, pode moldar aquilo que vai ser a banda no futuro num formato que poderá não ser aquilo que lhes é mais natural. Só assim se pode aprender para se saberem defender na sua vida profissional.

No contexto musical português, Rafaela é da opinião que os agentes e os managers deviam organizar-se e interagir mais, até por uma questão de protecção: o agente cultural não é uma profissão estabelecida, não está reconhecido nas finanças, não há uma “Ordem dos agentes” ou um código deontológico e era importante se existisse. Isso permitiria gerir lobbies e regular esta profissão. Se fosse conseguido, acredito que o nosso papel seria muito mais significativo.

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Texto: Teresa Melo
Fotografia: Edgar Keats

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