The Walks | Uma dose essencial de groove fresquinho

Entramos nos primeiros momentos de "Opacity", título do novo álbum dos The Walks e somos logo ocupados por uma sensação quente e groovy que nos diz que o Verão ainda não acabou. O disco, gravado e produzido no Blacksheep Studios e editado pela Lux Records, vai ser apresentado ao vivo no dia 10 de Novembro no Musicbox na companhia dos Basset Hounds.

Um lado ensolarado

Acima de tudo, The Walks – que é como quem diz o John Silva, o Gonçalo Carvalheiro, o Tiago Vaz, o Miguel Martins e o Nelson Matias – é um grupo de amigos que faz tudo o que consegue com o pouco que tem. O desabafo é do Miguel. A amizade está no core do projecto e é isso que o representa. “Há muitas fases acabamos por pensar se vale a pena o esforço. Mas é mesmo por gosto e por acreditamos no que fazemos que estamos cá ”, acrescenta o músico.

Catapultados para os palcos em 2014, foi o EP que agitou inesperadamente o percurso da banda. “Assim que o primeiro master ficou pronto, enviamos para o Henrique Amaro e foi um boost que não estávamos à espera”, conta o guitarrista. Em 2015, lançam o primeiro longa duração, "Fool’s Gold", considerado um dos melhores álbuns nacionais desse ano para a Antena 3. “Naquele momento pensamos, “se a banda acabar hoje, isto é o que somos””.

Estamos em 2018 e os The Walks também. É o ano de uma nova fase e de um novo álbum. “Para fazer mais do mesmo não fazia sentido. Queríamos tentar perceber qual seria a próxima etapa e entramos no processo com essa mentalidade. Não quisemos rotular ou catalogar, mas sabíamos que queríamos fazer algo diferente. Que nos desafiasse, como uma nova identidade”. Assim, a progressão foi seguindo as idas ao estúdio e os ensaios ocasionais. “Costumávamos alugar uma casa na Batalha no meio de nenhures, onde íamos só compor (e beber uns copos, claro). E foi nessa altura que convidamos o Bb para ver o que tínhamos”. Cada um trouxe as suas influências. Logo, começaram a sair os drafts. Depois, o primeiro single.

E conseguiram, de facto. “Opacity” revela-se disruptivo e afirma-se de frente na sua nova sonoridade. “Sentimo-nos mais confortáveis em estúdio e tudo mais estabelecido, quer a nível da sonoridade ou em cada concerto. E acho que há uma evolução e uma segunda fase, ao mesmo tempo”. Aos poucos, começa-se a compreender o porquê da estética, do ordenamento das faixas, da divisão de dois lados representativos desta idade adulta. Naturalmente, tornou-se um objecto dual, “um bocado como as decisões que tu vais tomando na vida e que podem levar-te para um lado ou para o outro”. Não sendo marcadamente feliz, identifica-se um lado A mais jovial, luminoso, cálido. O outro, mais frio e nubloso. Um pouco vulnerável, até.

Em estúdio, a concretização das coisas

Assim que a banda entrou em estúdio, foi o Bruno Xisto que participou mais directamente na produção do álbum. “Aqui há proximidade e informalidade na forma como as coisas são feitas e todas as condições acabaram por ser mais condizentes com o que nós somos agora”, explica o Miguel. “Não quer dizer que a técnica não esteja lá, mas às vezes as bengalas digitais ajudam um bocadinho”.

E é exactamente nesta fase que se depara com a concretização das coisas. “O próprio tempo de gravação deturpa muito a imagem que tínhamos do disco. Por isso, ir a estúdio é uma caixinha de surpresas e as melhores ideias acabam por acontecer aí.” Mesmo com as resistências inerentes e a permanente questão do “mas isto faz sentido?”, nunca foi estanque. E pela primeira vez, “enquanto grupo chegamos a um produto final em que estamos confiantes”.

Let us finish what we started. Na dispersão, todos queremos a mesma coisa. No próximo sábado, Opacity antecipa-se e pede-nos o simples: parar e sentir o autêntico. Depois conta-nos como foi.

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por: Teresa Melo
fotografia: Ana Cláudia Silva

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