Nuno Dias: Apetites pela Música Indie

Quem não conhece o Nuno Dias anda de certeza muito desatento. A Popstock! diz-te alguma coisa? Talvez a Caroline International? A Domino? E o Obrigado, Internet? Que tal Um Azar do Kralj? Provavelmente até já te cruzaste com o Nuno nalgum festival de música. Pois é, o Nuno não é nenhum deus, mas está mesmo em todo o lado – ou quase.

Formado em audiovisuais no Porto em 2007, desde então várias e importantes pessoas relacionadas com a música se cruzaram com o Nuno. O Joaquim Durães é uma delas, por exemplo, salienta. Ainda durante o curso, foi com os companheiros da faculdade que moldou os gostos musicais até chegar bem perto da música alternativa e render-se.

Parecia até predestinado. Quando terminou o curso de Tecnologias e Comunicação Audiovisual, mudou-se para Lisboa graças a uma proposta para trabalhar na Popstock!, a editora onde está há 8 anos. O Nuno Dias é essa pessoa, descreve entre risos. Um amigo meu trabalhava na editora, fez-me a proposta e enviei-lhe o meu cv a dizer “ajudei a organizar concertos, tenho um blog e sei trabalhar com o Photoshop”. Aceitaram e pensei “olha vou tentar!”.

Nas editoras discográficas onde partilha as mesmas funções profissionais, a comunicação assume uma posição essencial para a indústria e é aí que se dedica totalmente. Somos o “desbloqueador". Temos os nossos conhecimentos e os contactos e jogamos com esses fatores. Da criação e divulgação de conteúdos informativos ao contacto direto com a imprensa, rádio e outras plataformas, passando pela planificação de todo o marketing relacionado com o disco e assegurar que as lojas – das maiores às independentes – tenham o disco. No fundo, queremos fazer chegar a música dos artistas às pessoas e quanto mais e mais perto melhor. Os objetivos do músico também passam por aí.

Apesar das editoras musicais para a quais colabora canalizarem o seu foco no mercado internacional, o Nuno também já teve a oportunidade de trabalhar com algumas distribuidoras portuguesas como a Pataca Discos ou a Lovers & Lollypops. Adorei trabalhar com bandas portuguesas, algumas até de grandes amigos, mas tens de dedicar-te só a eles e deixas o teu trabalho internacional de lado. Há vendas, mas não o suficiente que justifiquem todo o trabalho que dedicas. Se a empresa fosse maior, talvez resultasse, mas no contexto da Popstock! acaba por não fazer tanto sentido. É um jogo de capitais.

O tempo muda e com ele o espaço, os meios e os modos de atuação. Encontrou a indústria musical “moribunda”, como o próprio a descreve. Ia às reuniões com a Universal e ouvia falar de milhões de vendas nos anos 90. Eu não passei por isso. Se hoje consigo meter mais de 200 discos de uma banda que gosto à venda, já o sinto como uma conquista.

Segundo o Nuno, atualmente a venda de discos ainda existe, mas não é a forma de subsistência exclusiva dos músicos. Se há 20 anos atrás o trabalho de uma banda tinha a capacidade de vender milhares de cópias e ser sustentável, o contexto atual não o permite. As bandas de hoje produzem um disco para fazer uma tournée que ajude a pagar o mesmo disco. Isso permite-lhes fazer o disco seguinte”.

A oferta é cada vez mais criativa e atrativa para um ouvinte que decide e consume cada vez mais rápido. É um bocado dessa forma que vivemos agora, afirma. Nos últimos anos, as bandas tentam fazer aquelas estreias que te cativem e que te façam comprar o disco. Há uma exigência crescente para que os conteúdos sejam virais, refere.

A capacidade de promoção aumentou e naturalmente que internet assumiu um papel preponderante, sobretudo através das redes sociais. Para o Nuno, hoje em dia, os músicos chegam muito mais perto dos fãs. Através das redes sociais, tentam criar um elo de ligação que antigamente não existia. Se isso resulta em vendas? Talvez não, mas cria buzz e vão ter milhares de pessoas a ver e a partilhar. É por aí que as bandas se atualizaram e se adaptaram.

Bem de frente para a música independente, o Nuno sabe que os momentos de transição também têm o seu reverso, nem sempre tão positivo e favorável como se pensa. As marcas multinacionais conseguiram sabotar um bocado o circuito indie. Sou contra. Prefiro ver um concerto para 300 pessoas dedicadas, do que ter 20 mil pessoas de costas viradas para um concerto, a falar umas com as outras e a tirar a ultima selfie para o Instagram. A mim, faz-me confusão. Sou um bocado puritano nestas coisas.

Não é músico, mas elege o respeito por quem cria e compõe música o elemento primordial de toda a relação com esta arte. Sobretudo tens de ter noção da linguagem e do ambiente que estás a construir à volta da música. Ter um gosto, consumir com consciência e saber filtrar. É essa a embalagem que se tem perdido. Como recuperá-la? Escutando o que a música ainda tem para nos dizer.

Texto - Teresa Melo
Fotografia - Capa: Pedro Paulos; 1a: Pedro MKK; 2a: Kimberley Ross

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