MEGASTORE: Gira o disco & toca mais!

Talvez seja a facilidade cada vez maior da música em preencher a gula. Talvez seja a vontade geral - e até um pouco subconsciente - de re-desafiar os ouvidos. Talvez seja a “retromania” que se quer escapar de um presente dúbio para um passado mais seguro. A verdade é que, aos poucos, esta espécie sonora que se chama vinil - aparentemente em hibernação – despertou nos últimos anos. E restabeleceu-se por todo lado.

No Largo do Intendente em Lisboa, o vinil encontrou o seu habitat na MEGASTORE, a loja cultural impulsionada pelo Nuno Efe e apoiada pelo SOU LARGO. Inaugurada em Dezembro de 2016, esta loja tem o mesmo perfil do proprietário: entusiasta, abrangente, vibrante e, principalmente, multifacetado.

Foi em miúdo que um disco de Metallica empurrou Nuno para a “mania” da música. Isso e a sorte de ter acesso à colecção gigante de discos do pai do melhor amigo, “um conhecedor de música como eu vi poucos”, conta. Anos mais tarde, seguiu para o consumo de revistas especializadas. O punk, o metal, o ska, o dub e o reggae, a electrónica. Nuno atravessou o break-beat e o drum and bass. Cruzou-se com o soul, o funk, o rock psicadélico e a música experimental. “Acho que já passei por todas as vertentes. Se calhar foi isso que me deu uma boa bagagem para nesta fase ter uma loja generalista", diz o Nuno. Da raridade ao clássico, a Megastore tem sempre os melhores discos dos melhores artistas, o que justifica bem o nome e o conceito. "Quer dizer, alguns também muito maus, o que é engraçado, para surpreender um bocado o pessoal”, admite entre risos.

Espantoso é perceber que o vinil já não é coisa só de uns para alguns. Os mais jovens estão a descobri-lo, nem sempre através dos pais, e há gente com gostos muitos específicos. “Cenas que têm edições de 30 cópias e perguntam-me se consigo arranjar. Também vendo e faço questão de vender muita música portuguesa. O Fausto, o António Variações e também coisas mais recentes, por exemplo, os discos da Lovers and Lollipops, a editora que organiza o Milhões de Festa e que tem cenas muito interessantes, ou como os Sunflowers”.

Como se explica este revivalismo? Primeiro, num período onde o download é ansioso e interrupto, torna-se mais fácil e apetecível chegar à prateleira e simplesmente escolher o álbum que se quer ouvir no momento. Depois, prevalece a parte sensorial. É o olhar, o toque, o cheiro. A espera. É o calor e o assobio que contrastam com a esterilidade dura e higiénica da gravação digital. É que o vinil é uma criatura viva e parte do seu valor do vinil está também numa certa inconveniência material porque ocupa espaço, é pesado e risca-se facilmente. É preciso aprender a cuidar.

“Há uns tempos entrou aqui um cliente e estivemos a falar um bocadinho. Quando se foi embora virou-se para mim e disse, sabes que tens o melhor trabalho do mundo? Realmente temos de dar valor ao que se tem e ao que se vai conseguindo. Se me dissessem há cinco anos atrás que ia ter uma loja de discos no Intendente, provavelmente ia dizer que não”.

A MEGASTORE é bastante para nos desconectar. E é essa a premissa tão necessária ao espaço mental para encontrar antigas e novas maneiras de conhecer e ouvir a música. Chegou a hora de desinstalar o streaming e começar a tirar o pó do gira-discos?

A MEGASTORE está no Largo do Intendente, nº 18 em Lisboa e podes seguir as novidades em https://www.facebook.com/recordsmegastore/

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por: Teresa Melo
fotografia: Pedro Roque

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