Maga FEST: Maga, Musa, Música

Três M’s, três substantivos femininos, três forças, três atributos. Todas se mesclam, se revelam e complementam. Maga, musa, música. Como se faz uma sem as outras duas? E o que acontece quando se libertam as três? Para dar certo, unem-se, facilmente.

Inês Magalhães, Maga para os amigos, já preparou tudo: do mote ao mood (e lá vão mais dois m’s para o somatório!). O Maga FEST, a celebração das MagaSessions, tem data marcada para o dia 6 de Outubro na Casa Independente. A anfitriã dá as boas-vindas: é favor entrar e fazer a festa.

Um concerto, uma sala de estar

Estávamos em 2012, período lúgubre para a cultura independente portuguesa. Sair para ver um concerto era um pensar-duas vezes verdadeiro e, para além das grandes instituições, os espaços mais alternativos em Lisboa escasseavam. Mas o que acontece quando a fome se junta à vontade de comer?

A presença habitual dos amigos músicos que faziam parte de uma rotina que acompanhava a Inês há largos anos, por um lado; a situação profissional como designer freelancer que não a deixava totalmente confortável para participar em todos os eventos que queria, por outro; e a sua casa antiga no Saldanha que pela amplitude majestosa acolhia, proporcionava e despertava um epicentro musical muito interessante. Tudo parecia conjugar-se numa muito honesta e frutífera troca de experiências.

“Naquela altura, dois amigos tinham um projecto que era o Coreto, com umas harmonias muito bonitas. Como nunca tinham dado um concerto, eu e o Pedro, o meu irmão, fizemos a sugestão “vocês vêm cá tocar, nós gravamos, tiramos fotografias e ficam com esse material para se quiserem marcar outros concertos”. Afastaram-se a mesa de jantar e as cadeiras para um canto e colocaram-se as almofadas no chão. Foi assim o primeiro de muitos concertos.

Se existe algo que identifique as Maga Sessions é esse seu carácter espontâneo e um manifesto que contornava a situação de crise geral. Como uma coisa que puxa a outra e, de repente, somaram-se dez concertos. “Os músicos não podiam ir ver músicos e fazia-me um bocado confusão. É como na arte, os próprios artistas não têm dinheiro para a própria arte e são eles que a criam”, explica a Inês. “Vamos começar a dar concertos cá em casa, onde toda a gente pode vir. Se a malta não tiver dinheiro não faz mal, não é por isso que não vem”.

E as Maga Sessions continuaram nesse prisma de comunhão com a música portuguesa mais underground. “Lembro-me que no concerto do João Lobo apareceram 60 pessoas.A partir daí, vieram os amigos dos amigos e acho que foi com a Selma Uamusse que estavam cá umas 100 pessoas. Não havia chão nesta casa”.

Das MagaSessions ao MagaFest: a transversalidade

A ponte foi a nonagésima pessoa que entrou para assistir a um dos concertos. Às tantas questiona-se como é que tudo isto aconteceu e confirmou-se mais uma vez: a música independente estava realmente faminta, mas infelizmente o mercado musical era orientado num sentido único. “E se há um evento destes e que tem sucesso, é porque havia muitas falhas aqui”.

O MagaFest acontece e guia-nos para um desvio tão evidente como indispensável. Na génese, não pretende ser um festival com data obrigatória, “se acontecer no próximo ano, acontece, se não acontecer, tudo bem, não é certo”. E se a intenção das MagaSessions seria a de quebrar o padronizado e preencher o vácuo estabelecido, em que linha estaria o MagaFest?

A experimentação sonora, sem dúvida. O festival regressa este ano à Casa Independente por várias razões. “Primeiro, é uma casa muito parecia com a minha. Depois, a programação musical batia certo, graficamente também e, além disso são duas mulheres que estão à frente do projecto e é sempre bom haver esse apoio e estarmos entre nós e trabalhar umas com as outras”, justifica.

A 4ª edição do festival traz quatro concertos e três compositores ligados pelo apelo à abordagem ecléctica. Norberto Lobo, Bruno Pernadas e Marco Franco vão construir uma história rara na melhor das intenções fusionistas. “As portas abrem às 18h, mas os concertos começam às 20h. Marco Franco lá fora no terraço com o piano, o Norberto lá dentro, fazemos uma pausa, Bruno Pernadas e no final, o projecto que têm em comum, a grand final Montanhas Azuis”.

Um projecto que não é só seu

A generosidade estende-se a cada um dos indivíduos cuja presença é um contributo fundamental por si só. “E foi neste esquema que as coisas começaram a surgir, numa comunidade entre todos e de tentar criar um espaço que fosse de encontro”, explica. Essa tal presença repara-se pelas pessoas que chegam ao final de tarde, acomodam-se ouvem o concerto e saem. “É um evento musical, não é um evento social no sentido das pessoas estarem à conversa umas com as outras”.

Não existe uma linha de programação específica e Inês não está dependente de nada, excepto da liberdade total “porque não tenho de fazer dinheiro com este projecto. Então, acho que a minha escolha musical é feita pelo meu gosto musical e com aquilo que eu acho que vai abanar as pessoas. A intenção da programação é não seguir uma linha de género, mas trazer músicos que acabas de ver o concerto e estás transformado”.

Se a música portuguesa quer libertar-se de uma condição que lhe foi imposta, o Maga Fest deixa claro que existe espaço para essa mudança acontecer. Como uma convocação de coisas maiores, com atitude e uma vontade de celebração imperdível.

sabe tudo sobre o MagaFest: https://bit.ly/2Nd9u7z

https://magasessions.com

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por: Teresa Melo

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