Jay-Z: "The Story of O.J."

O videoclipe de Jay Z e Mark Romanek para The Story of O.J., faixa que integra o seu último álbum - 4:44 - é uma lição intemporal sobre a condição dos negros nos Estados Unidos da América (EUA). O vídeo utiliza o estilo de animação tradicional das décadas de 30 e 40 para explorar os velhos estereótipos e elementos segregacionistas que incidiam sobre a raça negra – muitos dos quais ainda prevalecem.

Nas sequências de imagens a preto-e-branco encontramos múltiplas referências. Por exemplo, a curta-metragem musical "Clean Pastures", produzido pela Warner Bros (1937), que ridicularizava os negros, sempre com características exageradas em momentos de ócio, onde o jogo e o álcool se misturavam.

The Story Of O.J. apresenta ainda algumas semelhanças com o controverso Coonskin, filme realizado por Ralph Bakshi em 1975, que desenvolveu a estética ‘blaxploitation’. Outro exemplo, é a referência ao Dumbo, ora pela personagem do Walt Disney, ora pela região de Brooklyn com o mesmo nome, “invadido” por lofts e galerias de artes de luxo. I coulda bought a place in Dumbo before it was Dumbo/ For like 2 million / That same building today is worth 25 million / Guess how I’m feelin’? Dumbo

Em contraste, Jay-z também faz a homenagem sincera aos grandes ativistas e símbolos de resistência. Há uma personagem que relembra a Nina Simone e ouve-se "Four Women". O rapper recria ainda o momento famoso das Olimpíadas de 1968, quando os atletas Tommie Smith e John Carlos subiram ao pódio e levantaram os seus punhos saudando o movimento dos Panteras Negras.

O refrão resume todas as “classificações” racistas. Light nigga, dark nigga, faux nigga, real nigga/ Rich nigga, poor nigga, house nigga, field nigga/ Still nigga, still nigga, canta Jay. Para bom entendor meia palavra é suficiente. O contexto aqui é tudo e é tão controverso como verídico.

Texto: Teresa Melo

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