Filipe Feio: na estrada com o Hip Hop Português

A (quase) omnipresença do hip-hop é incontestável. Por um lado, o impacto, por outro o reconhecimento. Ambos são abismais e não é possível ignorar que a sua influência existe e resiste por todo o país. Também por cá, vemos rappers como cabeças de cartaz e em line-ups de festivais. A questão que se coloca é: estás atento ao que se passa em Portugal?

Mesmo que não estejas, Filipe Feio, já o está a fazer por ti. Aos 26 anos, o fotógrafo lisboeta reverencia o hip hop em português através de retratos e capas de álbum que se tornaram icónicas. Há um olho atento que repara naquilo que se vai passando e não demorou muito até Filipe se tornar no fotógrafo oficial de figuras importantes do panorama do hip hop nacional como os GROGNation, o Slow J ou o Papillon.

A minha primeira fotografia da vida? Por acaso gosto muito dela e não sei onde está, mas foi um retrato que fiz à minha mãe em minha casa. Filipe cresceu devagarinho, sem grandes expectativas. Começou por fotografar festivais como o Superbock Super Rock e o Sudoeste, mas desde inicio tinha a sensação de que ia ser freelancer. O palpite confirmou-se.

Apanhou o mundo da música meio de surpresa. Começou por acompanhar os Pas de Problème em concertos. Não tinha essa ideia em mente, até porque quando comecei a fazer fotografia mais profissionalmente, também fazia umas coisas na área da moda, explica. Fazia uns trabalhos para umas marcas de roupa e acessórios e por acaso achei que ia entrar mais por aí do que propriamente na música.

Entre casualidades, cruzou-se com um amigo na Restart. Esse amigo era um dos fundadores dos GROGNation. Se quiserem fotos, estou aí na boa com tempo, disse-lhe o fotógrafo, lançando-lhe a dica. Comecei a trabalhar com eles e, agora que estou a pensar, foi nesse momento que percebi que ia ser na música que teria mais trabalho, aí quando se viraram para mim e perguntaram, “nós precisamos de alguém para nos acompanhar, tipo, sempre. Estás disposto?” E eu tipo, “bora!". A partir daí, a estrada de norte a sul foi o cenário. Sempre gostei de hip hop, portanto não tem sido nenhum esforço e, para mim, foi uma mais valia. Só teve pontos a favor.

Convivências em Telheiras, onde mora, e conhece os rappers Mike El Nite e ProfJam. Seguiu-se um festival organizado por este último, onde Slow J era um dos convidados para actuar. Nesse dia estava a ver o concerto e tinha uma camara na mão. Por acaso tirei uma fotografia ao Slow J que acabou por usar na capa do videoclipe do “Comida”. E as coisas começaram a surgir assim. Uma pessoa liga a outra e depois quando dou por mim, já estou no meio.

Capas de álbuns, concertos, backstages e fotos promocionais. As fotografias de Keep Razors Sharp para Paredes de Coura ou do YUZI para o Meo Sudoeste são assinadas por ele. Tudo isso e a aproximação cuidadosa à imagem com movimento – que é como quem diz videoclipes. Sempre gostei imenso de imagem no geral, mas tinha o problema de não saber editar vídeo, por isso nunca explorei muito essa área, justifica. As colaborações mais recentes foram com a realizadora Leonor Bettencourt Loureiro em trabalhos como “Amar para esquecer” dos GrogNation. Gosto imenso do trabalho da Leonor e não foi nada difícil trabalhar com ela. Ela tem umas ideias assim fixas e boas e então foi fácil conseguir conciliar as opiniões dela com as minhas, as filmagens dela com as minhas fotografias. Foi fixe. Fiquei contente com o resultado.

Descarado e declaradamente, este é um trabalho visual que ilustra rimas, batidas, palcos, viagens. Filipe Feio fotografa um dos fenómenos mais importantes da cultura musical portuguesa como ingrediente criativo para deixar a marca ao de leve do hip hop em língua materna.

http://www.filipefeio.com

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por: Teresa Melo
fotografia: Filipe Feio

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