Em escuta: O que se ouve na playlist da Filipa Marinho

Somem irreverência e versatilidade: assim é a Filipa Marinho. Aos 27 anos, conta com 8 anos de experiência na indústria da música.

Esteve recentemente nos Estados Unidos e de lá trouxe a sua playlist. Sete músicas que me salvaram em Los Angeles. Go to LA, they said. It’ll be fun, they said. E foi. Mas também foi duro.

E acrescenta: passei os 3 primeiros meses de 2017 naquela que é a cidade dos sonhos. Alguns concretizados, a maioria sonhos falhados. Entre o fascínio com a cultura americana e as saudades de Lisboa, a constante que me acompanhou foi música. Estas foram sete músicas que me salvaram. Umas da solidão, outras do preconceito. Mas todas me salvaram de um embrutecimento e falta de fé na humanidade.

  1. Niki & The Dove - So Much It Hurts: A primeira vez que ouvi este duo sueco foi no Natal de 2015, na Radar. O Pedro Ramos, com a sua voz de mel, anunciou o single *Play It on My Radio. Foi paixão imediata. Mas apenas me deu para ouvir o disco todo em 2017. So Much It Hurts é a faixa de introdução ao álbum e tem tudo o que eu podia precisar. O feeling Fleetwod Mac, a voz esquisita e a letra… Uma ode a todos os que no amor já deram mais do que receberam.

  2. Andy Shauf - Quite Like You: sou uma mulher de prazeres simples. Os meus momentos favoritos em LA não foram as festas, os carros vintage ou as raparigas giras. O meu momento era no carro, sozinha, a caminho da 99c Store (o Mini Preço lá do sítio). Nesses momentos eu podia ligar a KCRW e sentir que numa cidade com tanta gente superficial, também havia humanos genuínos. Ouvi o jornalismo assumidamente liberal mas justo, os podcasts de storytelling mais bonitos e, a melhor parte, a selecção musical - também ela generosa, ecléctica. Este tema de Andy Shauf foi dos primeiros que ouvi na estação local de Santa Monica. Também esta tocou num nervo (diz-se isto em português?). Uma ode a todos os azarentos que se apaixonaram pela namorada do amigo.

  3. Wolf Alice - Freazy: quem me conhece sabe que sou uma lontra. Batata do sofá. O que quiserem chamar. Não me prezo por ser uma pessoa que faz exercício. A não ser que esteja a passear o meu cão. Como deixei o cão em Lisboa, em Los Angeles não tinha grandes expectativas de começar a fazer yoga e jogging. As poucas vezes que fui correr - obrigada pelos meus colegas de casa - fui a ouvir Wolf Alice. ‘My Love Is Cool’ é um disco perfeito para estar num parque a ginasticar em West Hollywood.

  4. Bad Wave - Runaway: se ouvir a KCRW foi a minha coisa favorita, a School Night foi a segunda favorita. Numa cidade em que espirras e pagas $20, são raros os eventos grátis cuja qualidade não tem preço. Todas as segundas-feiras no Bardot, em frente ao edifício da Capitol Records, acontece a School Night - um evento gratuito onde tocam 3 ou 4 bandas emergentes. Nunca sabíamos quem eram as bandas mas íamos à mesma. Porque na School Night é garantido que vai ser bom. Um dos melhores sets que vi foi dos Bad Wave. Imaginem que os Django Django e os Hot Chip tiveram um filho. Ou não imaginem, ouçam só.

  5. Salvador Sobral - Amar Pelos Dois: já notaram na tendência para canções sobre amor não correspondido? Ya, é fodido. Este tema fez-me chorar como uma criança em posição fetal. “Se o teu coração não quiser se ver / Não sentir paixão, não quiser sofrer / Sem fazer planos do que virá depois / O meu coração pode amar pelos dois” - se isto não emociona um bloco de gelo, não sei o que fará. A letra é linda, a actuação de Salvador Sobral é sublime - ao nível de um Chet Baker lusitano - mas o que me desmanchou foi o sentimento em português. Nunca pensei tornar-me nesse retrato da imigrante. Mas a verdade é que de repente a nossa língua ganha um maior valor.

  6. Moullinex - Love Love Love: se do outro lado do mundo me emocionei a ouvir português. Também perto me emocionei a ouvir inglês de um dos portugueses mais talentosos que conheço. Ya, eu sei que também é à imigra, mas veres uns tugas a conquistar o Echoplex, que é onde os cool kids de LA param e vêem as bandas fixes do momento, é de sentir muito orgulho.
    Toda a banda que acompanhava Moullinex era incível mas o baterista… Jesus! Sempre que o Diogo Sousa estiver numa banda, vou prestar atenção. Garoto dotado! Foi naquele palco em Echo Park que estrearam ao vivo o novo single Love Love Love. And I loved loved loved it.

  7. SZA - Drew Barrymore: outro dos temas que descobri na rádio local de LA foi o último trabalho de SZA. A artista já tinha provado que sabe provocar desconforto. Do bom. E fá-lo apenas com a repetição dos mesmos acordes ao longo de 3:56 minutos. Neste single despeja o que sente e retira-se de qualquer posição de vergonha ou pudor. Mais um tema em que se pede desculpa por abrir o jogo, sem sentir qualquer culpa por isso. É um #SorryNotSorry, mas no amor.

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