Daniel Makosch: In Rock We Trust!

Ingressou na indústria da música depois de muitos anos na estrada com os amigos. Familiarizado com a importância de apoiar as sonoridades portuguesas mais underground, entende que “uma editora serve como ponto de partida”. Conheçam Daniel Makosch, o dono da editora Raging Planet.

Sou de Lisboa, mas parece que não, quando se acusa de imediato a genética alemã. Não identifica cronologicamente o momento em que decide enveredar por este sentido, mas admite que o gosto pela música sempre foi claro. Estava a pensar em fazer algo, não sei bem o quê, porque não toco muito bem, portanto tinha de ser outra coisa, admite.

O agenciamento aos Moonspell marcou o início da Raging Planet. Começou como agência, acolhendo várias bandas. A falta de interesse em editar os projetos que por ali passavam, motivou-o a arriscar: não há de ser um bicho de sete cabeças editar isto, refletiu. As primeiras edições foram demos de bandas, com a finalidade de apresenta-las a outras editoras. Ao décimo sétimo ano de existência, a Raging Planet já conta com 240 lançamentos.

A rotina de um editor distingue-se sobretudo pela quantidade desmedida de música nova que ouve diariamente. Mandam-me imensas coisas e faço questão de ouvir tudo, refere Makosch. Prefere não seguir uma linha específica na editora, o que lhe confere um perfil versátil face a outras:

Se eu estivesse nos EUA ou na Alemanha, se calhar fazia sentido, mas Portugal é um país tão pequenino e com um mercado tão limitado, que não me faz confusão ter uma banda de black metal e outra de jazz na mesma label. Não tenho um esquema. Tenho de sentir que a banda tem algum foco e seriedade no projeto. Aliás, até é engraçado, mesmo com tantos estilos variados na editora, há pessoas que compram as edições todas e colecionam a editora.

Paralelamente, o dia-a-dia passa muito por embrulhar produtos para enviar pelo correio que, na sua maioria, é para o estrangeiro em vendas online. E acrescenta, cada vez reparo mais que em dez discos, 1 é para Portugal e os 9 vão para fora. Além disso, vendo muito mais nas lojas independentes do que nas grandes superfícies.

Quanto à viragem para o digital, Makosch confrota-a com naturalidade. Por acaso dentro do género que eu edito, as pessoas têm aquele valor do objeto do que - não querendo generalizar - as pessoas que ouvem pop. Digamos que acaba por ser um negócio para nichos, porque todos os outros vão acabar por sacar. E há muitas editoras que só trabalham assim, já não tem interesse. Por outro lado, conheço pessoas que compram cassetes e vinis e não têm onde ouvir, mas querem tê-lo para a coleção.

O futuro da indústria musical é, nas suas palavras, imprevisível. Na história dos formatos, visualiza uma tendência para simplificar as coisas. Se calhar daqui a uns anos, o CD vai ser uma cena super retro. Reconhece todas as potencialidades da internet, especialmente o acesso. É muito difícil explicar a alguém que antigamente enviávamos uma carta bonitinha com uma cassete que gravávamos e, seis meses depois, recebíamos a resposta. Hoje é só carregar no botão e ouvir.

Makosch acredita que o percurso da música portuguesa vai ser mais passível de singrar com Salvadores ou não, há sempre mais malta a conseguir aceder. E é a mesma coisa com outras músicas. Vai ser muito mais fácil chegar a esses países. Para o seu negócio? Revela que a coisa vai estar cada vez mais limitada, mas a ideia mantém-se: eu sei o meu limite, posso cobrir aqui em Portugal e fazer alguns intercâmbios. E é bom para mim também, fazer parte da história das bandas.

http://www.ragingplanet.pt

Texto: Teresa Melo

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