Altafonte: Quando a Música e a Tecnologia se cruzam

A evolução tecnológica transformou para sempre a forma como interagimos com o som — seja a criá-lo ou a escutá-lo. Mais diversificada e democrática, a experiência sonora nos nossos dias é ímpar e hoje é possível afirmá-lo: quase omnipresente.

A música permeia todos os aspetos da rotina e, mesmo que as receitas da música gravada em formato físico estejam a sofrer com os vários obstáculos que se impõem no novo cenário onde está inserida, o papel importante da música na sociedade contemporânea aumenta indiretamente as receitas de outros, como por exemplo, das performances ao vivo.

Atualmente, ter a máxima noção do que é que se trata a distribuição digital é essencial para a vida de quem trabalha na música, porque é um meio de a fazer chegar a qualquer parte do mundo, afirma Vítor Macedo, o Country Manager da Altafonte em Portugal.

Catalisadora das relações entre os diferentes agentes da indústria musical, a Altafonte é uma das empresas mais importantes no que diz respeito à distribuição dos conteúdos musicais e audiovisuais dos artistas, gravadoras e produtoras em serviços digitais e lojas a nível internacional. Atualmente, está representada na América Latina, nos Estados Unidos da América, em Espanha e em Portugal.

No contexto português da Altafonte, o mercado é independente. Keep Razors Sharp, GNR, Xutos & Pontapés, Piruka, Rodrigo Leão, Orelha Negra, Frankie Chavez, Bruno Pernadas, You Can't Win Charlie Brown, Bispo, Sencible Soccers, PZ, Minda Gap, UHF, First Breath After Coma, Surma, Benjamim, Salto, Terrakota, Hélder Moutinho, Sam Alone & The Gravediggers e tantos outros compõem um catálogo amplo e diversificado de artistas.

Complementando os múltiplos serviços da empresa - distribuição digital, de CD e Vinil; marketing digital; gestão de direitos conexos; sincronização; administração de catálogos editoriais e o publishing - tem ainda "dentro de casa" a BOA Musica ( http://boamusica.com/) dedicada ao Hip Hop e a FOL Musica (http://www.folmusica.com/) à world music. Na Altafonte, todos os géneros musicais têm o seu espaço.

Indiscutivelmente, a última década renovou os aspetos basilares da música, mas a sua relevância permanece bastante forte, tanto num ponto de vista comercial como de uma perspetiva mais cultural. Ao mesmo tempo que subiu o interesse pelo digital, a forma mais tradicional também cresceu, explica.

Por vezes, tem haver com a necessidade das próprias editoras em reinventar os catálogos. De repente, houve alguém que pensou em colocar discos descatalogados há 20 ou 30 anos no mercado, refaze-los com outras gramagens, capas, posters e uma série de outras coisas, como faixas extra ou o cartão para o download. E depois há uma coisa que é normal, quando o disco faz 30 ou 40 anos, assistimos muitas vezes à reprodução dessas edições. É sempre visto como uma oportunidade de negócio. Quando um artista morre, lá se fazem as reedições.

Ademais, nem que seja por necessidade, o suporte físico continua a ser essencial para muitos que precisam de manter esse contacto pessoal, porque gostam de ter uma assinatura ou dedicatória e isso também é o apoio dos músicos na estrada. Significa que, a banda pode receber o valor diretamente quando o suporte é físico. Se é digital, o retorno passa primeiro pela editora, que retira a sua percentagem e só depois lhes dá qualquer coisa passado alguns meses, refere.

Será então o regresso ao analógico uma realidade no futuro próximo? Para o Vítor não há margem para dúvidas. Um dia, todos os suportes vão ser digitais, porque não há mesmo volta a dar. Não vai haver um retrocesso às dark ages onde só tínhamos o cd ou o vinil. Isso não vai acontecer. Agora, também me parece que a parte física do mercado vai continuar a existir.

A questão que se coloca não tem haver apenas se os periféricos podem manter-se ou não por si só, até porque a coexistência entre si ainda se mantém uma realidade. Uma boa campanha digital tem mais impacto porque chega a toda a gente. Na sua opinião, há um conjunto de marcas que precisam que certos elementos existam para que se possa continuar a investir, sobretudo em publicidade.

No território português, identifica o Spotify, o Itunes, a Applemusic e a Meo Music como os mais relevantes. O Youtube continua a ser muito importante para o bem e para o mal, porque paga muito mal comparativamente a outras plataformas, mas continua a ser um local que está de tal forma enraizado que toda a gente ouve musica lá. Muitas vezes até o utilizam mais para ouvir do que para ver o vídeo.

Para lá das múltiplas e aliciantes vantagens da distribuição digital, há também cautelas a ter em conta. Em primeiro lugar, como em todas as atividades, é preciso ter uma ideia, estudar o negócio com os seus prós e os contras e escolher um parceiro em quem confiem e que dê uma boa retribuição. O elemento-chave? Que lhes dê atenção. A diferença que se faz é o contacto com as pessoas. Eu acho que isso pesa na decisão final.

Depois há ainda as questões técnicas. No digital, há quem faça plágios, apesar de ser facilmente identificado através de softwares de análise que as próprias plataformas detêm. O acesso é democrático e ainda bem que o é, mas também trouxe muito facilitismo e alguns artistas acham que podem fazer tudo, colocar na net e já está. É uma questão de bom senso e de criatividade. Este é o lado mais penoso.

Neste cenário onde a música e a tecnologia estão mais interligadas do que nunca, a força combinada entre ambas impulsiona visivelmente uma mudança de paradigma. O potencial da música está mais vigoroso, a par da existência de editoras independentes cada vez mais capacitadas. O mérito é todo delas, porque não é o mercado multinacional que vai contribuir para o desenvolvimento da musica portuguesa lá fora, explica o Vítor.

Agora é o momento ideal para as mentes criativas, juntamente com todas as instituições tecnológicas, culturais e outras, se unirem para examinar algumas das aplicações e implicações mais emocionantes da tecnologia musical, explorando todos precedentes e possibilidades. O que virá aí será empolgante e estamos cá para o ver e, sobretudo, escutar.

https://altafonte.com

Por: Teresa Melo
Fotografia de Capa: Inma Grass
Fotografia: 1ª e 2ª na Altafonte Music Network - Madrid, Inma Grass ; 3ª, Vítor Macedo

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