A transversalidade do som: Entrevista com Miguel Marques

Entre o saber fazer e o saber ser, Miguel Pinheiro Marques posiciona-se naquele ponto que intersecta a ciência, a tecnologia e a música. É o técnico responsável pelo estúdio de masterização áudio dos Estúdios Sá da Bandeira, no centro do Porto. Natural de Aveiro, vive e trabalha na cidade invicta há 10 anos.

Mudei-me para o Porto para estudar Produção e Tecnologias da Música na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, conta o Miguel. Muito cedo, a teoria passou à prática e ainda estávamos no 2º ano do curso quando eu, o João (o atual dono dos Estúdios Sá da Bandeira) e outro sócio, o Diogo (que, entretanto, emigrou), decidimos criar os Estúdios Sá da Bandeira. Queríamos começar a gravar discos e aconteceu.

Ao longo do seu percurso, o trabalho do Miguel começou por manifestar-se na compreensão, no registo e na reinvenção do som, até se focalizar somente na vocação que o distingue atualmente. No início, fazíamos um pouco de tudo porque também estávamos limitados pelo orçamento das bandas. Estivemos apenas dois anos a gravar discos e, por gostar cada vez mais da masterização, decidi dedicar-me só a esse negócio. Depois percebi que podia fazer isto a tempo inteiro, explica.

Totalmente especializado, este estúdio de masterização é um lugar de referência a nível nacional e, foi durante a sua normal evolução, que se cruzou com o Black Sheep Studios. Estava a masterizar, a receber cada vez mais clientes e aconteceu espontaneamente. A partir dai começamos a falar e a fazer discos para o Black Sheep Studios. Da parceria, apontam-se nomes como Sean Riley & The Slowriders, Them Flying Monkeys, Keep Razors Sharp e Pernas de Alicate.

Apesar de ter tido formação de acústica durante a faculdade, sempre me interessei por saber mais sobre esta área para poder chegar rapidamente aos meus próprios fins. E acrescenta que, de dois em dois anos alguma coisa mudava nos Sá da Bandeira. Aos poucos, agarrávamos um bocadinho de dinheiro e fazíamos mais uma sala, crescíamos. E o estúdio ia ficando cada vez maior e melhor, até ser o que é hoje. Espontaneamente, as condições acabaram por se reunir e, na oportunidade de intervir no Black Sheep Studios, Miguel avançou. Queres ajuda nisso?, perguntou ao Carlos BB. O Black Sheep Studios tornou-se, desta forma, no primeiro estúdio que a Muséo requalificou fora do Porto.

De onde surge a Muséo? Fruto das circunstâncias e eventuais solicitações, em 2015 Miguel criou a sua empresa no ramo da construção e consultoria acústica de indústrias do áudio profissional. Num espaço de dois anos, a Muséo já completou pelo menos dez obras. Como a sala do BB ficou porreira, isso chamou muito a atenção. É um bocado como a cena dos discos: bons trabalhos trazem bons trabalhos. Funciona assim.

Até ao momento, o Black Sheep Studios foi a obra mais completa em todas as suas vertentes. Desde o mobiliário à correção acústica, todos os pormenores foram pensados, desenhados e adaptados à sua medida. Segundo o Miguel, a requalificação da régie 1 já estava a ser feita, atacando sobretudo os principais problemas. As transformações feitas aí, nunca as tinha feito em lado nenhum, porque o que era preciso resolver era muito especifico para aquela régie. Já a régie 2 foi construída de raiz. Sei que aquele molde funciona, depois foi só uma questão de escalar e decorar. Digamos que a fórmula da Muséo é baseada nessa estrutura.

Atentando às necessidades e especificidades do Black Sheep Studio, Miguel acabou por aventurar-se na construção de umas isoboxes únicas e exclusivas, sugeridas pelo Carlos BB. No fundo, são umas caixas insonorizadas e portáteis, onde se coloca o amplificador e os microfones e é como se tivesses uma sala dentro de uma sala. Tem muito isolamento sonoro, é perfeito para fazer esse tipo de cenas, explica. E isso foi uma das coisas em que realmente colaboramos.

O apoio entre ambos tornou-se cada vez mais recorrente. O BB passou a ser amigo e para mim foi ótimo fazer a obra porque me trouxe mais trabalho e desde então ajudamo-nos sempre que pudemos. Por exemplo, o Miguel criou o novo website do Black Sheep Studios, área que também domina desde miúdo.

Entre múltiplas intersecções profissionais, Miguel encontrou o seu lugar e aí conseguiu fundamentar-se. Além do trabalho como técnico de masterização, é também o autor do livro "Sistemas e Técnicas de Produção Áudio" e colaborou nas publicações de áudio profissional "AudioXpress" e na revista "Produção Áudio. Mas como tudo nesta área, tive de falhar muito para começar a fazer bem. E é uma questão de tempo.

SDB Mastering: https://sdbmastering.com/pt/
Muséo: https://museo.com.pt

Texto: Teresa Melo

Partilhar