Rastilho Records: uma carga sonora explosiva

Sediada em Leiria por Pedro Vindeirinho, já lá vão mais de vinte anos desde o primeiro disco editado. Hoje é uma casa de referência para a música portuguesa que a trata como convidada de honra. Keep Razors Sharp, Mão Morta, The Parkinsons, Jorge Palma, Bizarra Locomotiva, entre tantos outros...a entrada é livre na Rastilho Records.

Da coleção de discos quando era miúdo à criação da Rastilho, foi um salto. Pedro formou a distribuidora musical em 1996 com um catálogo postal e a Mailorder com alguns títulos ligados ao Punk. Em 1999, surgiu a possibilidade de editar o disco dos Intervenzione, tornando-se no ímpeto para a sua apresentação como editora. Quatro anos mais tarde, veio o primeiro site da loja e a atenção centrou-se exclusivamente nas vendas online. Olhando em retrospetiva, é inacreditável como passaram 22 anos…! Não consigo explicar!

A estrutura é pequena, mas em nada redutora. O núcleo duro da Rastilho é constituído por duas pessoas que se dedicam permanentemente. Em regime de outsourcing conta com o apoio de seis colaboradores nas áreas do design, web design, programação, promoção de artistas e vendas em concertos.

A versatilidade destaca-se e é, sem dúvida, uma das qualidades basilares que fazem da Rastilho Records uma referência que nos tem acompanhado ao longo do tempo. Para além da edição discográfica e distribuição para lojas e revendedores, tem uma bilheteira online, produz espetáculos e vende merchandising. Pertence à editora Alma Mater, no qual Pedro trabalha ao lado de Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell. Acaba por ser uma família grande, nem sempre fácil de gerir.

De que forma uma editora discográfica independente se posiciona num contexto cada vez global? Pedro questiona a nova vaga da exportação da música portuguesa com algum ceticismo. Sempre tivemos artistas a procurar a internacionalização, com mais ou menos visibilidade nos media. Não são eventos como o Country Focus num Eurosonic ou nos eventos think tank que regularmente recebemos em Portugal que, por si só, uma banda se consegue internacionalizar. O conselho? para uma banda começar a furar no mercado de festivais por essa Europa, é preciso ter em mente que é um processo gradual e mais lento do que talvez se possa pensar. São precisos contactos, bons discos e, claro está, dinheiro para investir e procurar oportunidades.

Envolvendo-se num espectro sonoro com ADN maioritariamente português, Pedro acredita que a transversalidade criativa é uma realidade. É um chavão dizer isto, mas temos realmente boas bandas quando comparadas com outros nomes internacionais, refere. Estamos numa das melhores fases de sempre da música portuguesa.

E a sua opinião não se esgota em exemplos. Temos casos como o The Legendary Tigerman que está agora a recolher frutos do trabalho desenvolvido na última década. Temos o caso dos Moonspell que são os maiores embaixadores da música portuguesa. Temos os The Gift, os Analepsy, os For the Glory, ou o caso recente da SURMA, que está a dar os passos certos em busca dessa internacionalização. O fantástico crescimento dos Sinistro, que têm uma editora e agência com dimensão internacional e proporciona-lhes tantos e bons concertos fora de Portugal.

Porque a música também evolui a par dos seus consumidores, muito ainda está por fazer, com uma maior consciencialização para a importância de apoiar a música portuguesa, diz. Não por uma razão de chauvinismo puro mas porque é fundamental, sobretudo no inicio de uma banda, sentir esse apoio.

Fórmulas mágicas? Essas não existem. O circuito de concertos em Portugal é demasiado pequeno para um país também ele pequeno. Por isso, acreditar no que se faz, complementando a boa qualidade dos discos e os contactos certos parece a postura mais adequada. Por vezes acho que perdemos demasiado tempo em lutas internas e coisas menores, quando existe tanto para conquistar, refere. No meu caso, assumi o risco de tentar essa sorte há 12 anos atrás e a aposta foi ganha com o crescimento exponencial da editora

A Rastilho Records marca o percurso evolutivo da música portuguesa. Os 180 discos editados reforçam a ideia de que a Rastilho Records acredita realmente na liberdade, sem descriminação de géneros ou origem. E é esse o movimento que nos interessa.

https://www.rastilhorecords.com/

Por: Teresa Melo
Fotografia: Pedro Vindeirinho

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