Iminente Pataca Discos: Uma editora na retaguarda

João Paulo Feliciano tem o seu nome na retaguarda da música portuguesa. O fundador da Pataca Discos, que também é músico (Real Combo Lisbonense), editor, designer gráfico, diretor artístico do recinto do NOS Primavera Sound e artista plástico, interliga as várias dimensões sonoras para libertar a música. Nas suas palavras, além da linguagem musical propriamente dita - a música no seu estado mais puro - interessa-me a música como um fenómeno mais amplo e profundo. Não só um fenómeno cultural e social, mas cósmico, científico ou espiritual.

Entra na indústria musical com a primeira edição dos Tina & The Top Ten, o álbum "Yeah Trips”. Eram os anos 90, os tempos das edições em cassete duplicadas em casa uma a uma, embaladas numa caixa com materiais gráficos produzidos artesanalmente, da Moneyland Records e de uma Caldas da Rainha bem desassossegada.

Hoje, a música que toca é outra. A personalidade, essa, continua a ser expressão central de uma editora que se mantém fiel à sua génese. Ainda hoje sinto que a minha forma de lidar com a música, embora tenha adquirido contornos profissionais é mais artesanal do que industrial, explica o João Paulo. No que em termos carateriza a Pataca Discos, o “à antiga” deve ser exatamente colocado entre aspas. Não significa que não estejamos no Bandcamp, mas pode significar que não privilegiamos o Spotify. Cada um de nós tem que perceber o seu "lugar", a sua "voz", o seu "papel". E trabalhar com intuição e persistência.

A Pataca é mais do que um estúdio de gravação, uma agência, editora ou empresa. É uma casa e tem uma família. Nasce em 2009 em Lisboa e um ano depois, lança o seu primeiro álbum, o “Dá” da cantora Márcia. Atualmente, entre músicos e instrumentos, produtores e arranjadores cruzam-se Benjamim, Bruno Pernadas, You Can’t Win Charlie Brown, They’re Heading West, Tipo, Tape Junk, Julie & The Carjackers, Minta & The Brook Trout e Real Combo Lisbonense. Ao lado do João Paulo está João Vaz Silva, o responsável pelo booking – e o meu braço direito - em coordenação com todas as bandas e técnicos.

O que o motiva a trabalhar com um artista? Amizade e talento, cumplicidade e camaradagem, mas também sensibilidade estética e sentido de humor, honestidade e capacidade trabalho, cultura musical e visão artística, inteligência, graça, ética. No fundo, é esta amálgama de atributos e aptidões humanas que facilita a vontade de fazer discos de qualidade como importantes obras artísticas. Interessa-me lançar bandas e fazê-lo com grandes discos, inovadores, particularmente em relação ao contexto português. Ao João Paulo, importa-lhe também a promoção da cultura de estúdio, a sabedoria técnica e musical, o instrumental de excelência e a intensidade interpretada, o acompanhar a transposição de um disco para o palco. Trabalhar o estilo. Perceber como é que banda funciona melhor, comenta.

Sempre atento, João Paulo reconhece o desenvolvimento sonoro e tecnológico assinalável e o que isso significa para a geração atual em termos de criação e execução musicais. Tendo a olhar para as mudanças num contexto mais lato. Desde a invenção da imprensa que as formas de circulação e disseminação da música tem estado em transformação, explica. O acesso cada vez mais rápido aliado à codificação digital e disseminação instantânea globalizada da internet são visíveis também no talento artístico. O reflexo? A quantidade de músicos em Portugal que dominam a(s) linguagem(s) musical (ais) é muito maior hoje do que há 20 ou 30 anos.  Há sobretudo muito mais música a ser feita. A maior parte é má, desinteressante ou mesmo irrelevante. Alguma, pouca, é muito boa.

A Pataca Discos soa a resistência e rapidamente se compreende que na base está uma extraordinária produção musical que nos conquista pelos ouvidos. A liberdade de ser eu a escolher e decidir o que editar, sem ter que dar satisfações a ninguém, só porque gosto e quero. É este o fundamento.

http://www.patacadiscos.pt

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por: Teresa Melo
Fotografia de Capa: Vera Marmelo
Fotografias: Nuno Sousa Dias

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