Gato Mariano: as críticas musicais mais felinas da internet

O Gato Mariano é, inegavelmente, o felino com mais street cred da nossa geração. Muito mais do que pequenas histórias animadas por um sentido de humor inteligente e aguçado, a compilação divertida das suas críticas tornou-se uma série reveladora de verdades sobre a música portuguesa. Porque o Gato Mariano não é um Grumpy Cat, não tem pudor nem pretensiosismo. É atrevido, sarcástico e tem um traseiro apetitoso.

O seu autor é o ilustrador Tiago da Bernarda que se aventurou com o Mariano em 2014. Natural de Alcobaça, veio para Lisboa estudar Ciências da Comunicação para salvar o mundo a partir do jornalismo. Entre estágios não-remunerados, condições precárias, currículos perdidos e redações retrógradas, Tiago redesenhou o seu percurso.

Sem qualquer experiência ou formação dentro da área criativa, Tiago rascunhava as margens dos cadernos. Era uma espécie de escape para explorar ideias dentro da música e da critica musical que não conseguia exercer como jornalista, conta. Consumia banda desenhada, o que acabou por antever uma nova trajetória – a do desenho. O curso de ilustração, terminou-o muito recentemente, no sentido de conseguir desenvolver técnicas tanto digitais como manuais.

Através dos balões de fala semelhantes aos dos tradicionais comic books, o Gato Mariano é uma personagem imbatível. Acho que chegamos a um ponto em que já somos todos críticos. A necessidade de meter o crítico no pedestal já se destruiu há muito tempo, refere Tiago. Devemos olhar para a crítica como aquilo que é, ou seja, algo discutível. Não é a verdade absoluta. É opinião.

As críticas felinas não são pensadas para o consenso, pelo contrário. Mariano não vai de modas. É exigente e só critica o que é nacional porque a forma como encaramos a música portuguesa de vez em quando ainda é levada ao colo em comparação como avaliamos a música internacional, justifica Tiago. A música já cresceu de tal forma que deveríamos falar abertamente sobre as bandas que gostamos e as que não gostamos. E parte da minha missão é desconstruir isso. Por essa razão, Mariano não tem problemas em apontar o dedo. Mas também sabe miar elogios - quando assim o entende.

E Tiago, o que diz do estado geral da música? Agora estamos um bocado mais livres do peso das editoras. Antes, muito mais do que agora, as editoras controlavam tudo o que passava em termos de música na radio, na televisão e nas lojas. Hoje, já não há tanto essa necessidade. Apesar das editoras ainda terem algum peso nas plataformas de streaming - todas aquelas playlists que ouvimos foram feitas e controladas – a comunidade musical já não está tão dependente para poder lançar o seu trabalho e é ótimo, não só em termos de quantidade, mas também de qualidade. Não há qualquer tipo de filtros. Isso também demonstra pelo menos em termos de autenticidade.

Para além da colaboração assídua com a revista digital dedicada ao Hip-Hop, "Rimas & Batidas", o Tiago e o Gato estão a preparar uma antologia desde os seus early-works a ser editada pela Chili Com Carne ainda este ano. As propostas que tenho ao longo do tempo são coisas pequenas, geralmente festivais com quem tenho vindo a colaborar como o Milhões de Festa, o Zigur Fest, o Motel x ou O Flor em Rama.

Na sua assertividade e boa memória, o Gato vai continuar a andar por aí, a reflectir sobre musicalidades e a repugnar os “hipsters sebosos da internet das redondezas”.

podem seguir as críticas do Gato Mariano no facebook: @criticasfelinas

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por: Teresa Melo
fotografia: Rita Romeiras
ilustrações: Tiago da Bernarda

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